segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Perigo das Drogas Sintéticas nos Rondam




* Conceição Cinti



Drogas sintéticas. Por que temidas? Porque são fabricadas em laboratório, são substâncias ou misturas de substâncias psicoativas produzidas a partir de meios químicos aleatórios, cujos principais componentes ativos são desconhecidos e têm apresentados efeitos devastadores à sociedade.

Em artigo recente (publicado aqui nesse espaço) falamos das “Drogas Sintéticas” e do assustador aumento do consumo desse tipo de droga em nosso país. Também falamos da dificuldade de apreensão desse tipo de drogas pelas nossas polícias porque cada nova substância que surge precisa ser classificada, bem como controlada ou proibida e cadastrada pela ANSIVA para ser considerada droga, somente após esse procedimento é que uma substância poderá ser considerada uma droga ilícita e passível de apreensão e criminalização segundo a ANVISA.

Esse fato favorece o comércio ilegal das drogas sintéticas e, consequentemente, requer alerta máximo dos Governantes e das nossas polícias, principalmente da Polícia Federal.

Alarmante a desinformação a respeito das drogas de uma forma geral. E, fatos comuns desse mercado criminoso, são revelados com espanto pela mídia. Mas pouco tem sido feito pelos Governos.

O narcotraficante é alguém inescrupuloso, perverso e indiferente à sorte do ser humano. Na busca alucinante por maiores lucros não se importará em lançar mãos de produtos que torne a droga mais letal a vida e a saúde das pessoas. Como por exemplo, usar pó de mármore ou vermífugo, cafeína, anestésicos, antitérmicos, tudo para aumentar a quantidade da “farinha” como é popularmente chamada a cocaína (Folha de São Paulo, 01.07.12).

Como qualquer "mercado" se movimenta e se renova através de novidades que são lançadas com frequência, o comércio das drogas, não seria diferente. As novidades deste mercado, até o momento, são a “maconha sintética” e os “sais de banho”, ambas são drogas criadas em laboratório e geram comportamento hiperviolento. No entanto, estas não são as únicas, outras drogas já circulam no mercado sem ainda terem sido identificadas e cadastradas.

A maconha sintética tem sido apontada como uma dessas drogas que transtornam e transformam um ser humano normal em alguém que mais se assemelha a um monstro. No inicio do mês em passado um jovem de 22 anos, Michael Daniel, cidadão americano, agrediu e estrangulou um cachorro após consumir a maconha sintética. Nessa saga, Michael além de morder o animal, arrancou os pedaços de suas carnes, segundo relato dos policiais que atenderam a ocorrência.

As autoridades dos EUA continuam a alertar a população para o risco de novas ocorrências de violências pelo uso das drogas sintéticas. Segundo o médico diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital de Clínicas de São Paulo, o renomado Dr. Antony Wong, esses tipos de substâncias criadas em laboratórios, são capazes de transformar mesmo os usuários em verdadeiros “monstros”, são como "um crack piorado".

O efeito "É como se o cérebro delas se desconectasse do resto do corpo", diz o médico. As pessoas que usam, ficam gratuitamente violentas, agressivas a tal ponto de matar, afirmou ele.

Também no mês passado, a polícia de Nova Jersey foi chamada porque um homem estava trancado em um apartamento e ameaçava cometer suicídio. Os agentes arrombaram a porta e ordenaram que Wayne Carter, 43 anos, soltasse a faca que portava, mas ele passou a se esfaquear no abdômen, pescoço e pernas. Quando os policiais usaram gás de pimenta para tentar impedi-lo de continuar, o homem se enfureceu e começou a jogar pedaços da própria pele e intestinos contra os agentes. Carter sobreviveu e foi internado para tratamento psiquiátrico.

O perigo das drogas sintéticas é real, a denominada maconha sintética é uma erva, no entanto, após ser cultivada lhe é acrescentada outras substâncias. O correto mesmo seria chama-la de maconha semissintética, porque ela é uma planta natural, a qual foi acrescenta outras substâncias.

Já os “sais de banho” são chamados assim porque a droga foi comercializada dessa forma, é vendida em pacotinhos e, quando o usuário abre, se assemelha ao sabonete em pó. Assim como o crack se chama crack, porque ao entrar em combustão produz um barulho semelhante à palavra “crack”. As novas drogas sintéticas surgiram nos últimos três anos e são mais potentes em comparação as drogas antigas. O que esses dois grupos têm em comum é justamente a extrema violência, a agitação e o alto poder destrutivo sobre a mente e o corpo dos usuários.

Na maioria dos crimes que a polícia acredita terem sido cometidos após o consumo dessas drogas, os suspeitos afirmaram não se lembrar do que havia ocorrido-Michael Daniel, o homem que matou o cachorro, disse aos familiares que não tinha qualquer lembrança do crime e foi à igreja para pedir perdão a Deus.

Familiares de Daniel o descreveram como um pai dedicado de duas crianças, e que o crime foi algo terrível e incompatível com seu caráter.

Compartilho do entendimento do Dr. Antony Wong, o argumento faz sentido, já que, sob o efeito dessas drogas sintéticas, "a pessoa não tem consciência ou controle do seu corpo, da sua mente e dos seus freios sociais". Tive a oportunidade de acompanhar casos semelhantes e ver que os usuários de drogas mais pesada agem impulsivamente, sem nenhuma consciência. É como se a parte pensante do cérebro dessas pessoas estivesse seccionada, separada do resto do cérebro.

O perigo das drogas sintéticas é pior do que os causados pelas drogas naturais, no caso do usuário do crack, a compulsão intermitente pela droga o tornar violento e capaz de tudo para ter acesso à próxima cacimbada, aqui a violência é decorrente da irresistível compulsão. No caso das drogas sintéticas, há uma violência absurdamente gratuita e imediata, desencadeada a partir do consumo.

Se Governos, Sociedades, Civis e Especialistas não conseguiram sequer o entrosamento necessário para acolher e tratar adequadamente das pessoas viciadas em crack, não é preciso dizer que drogas sintéticas ou outras desconhecidas da ANVISA, estão absolutamente distantes e fora de debates.

Portanto, imperioso que o foco não se destine para a aprovação de projeto que descriminaliza o uso de drogas, mas sim para o conhecimento, estudo e debates sobre as drogas já conhecidas ou não, bem como para a elaboração de verdadeiros planos e projetos de saúde pública. Uma aposta na prevenção, sem desfazer-se da punição no âmbito jurídico.

*Conceição Cinti. Advogada. Educadora. Especialista em Tratamento de Dependentes em SPA, com experiência de mais de três décadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário