terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Restaurador de Vidas, você conhece esse profissional?




Na restauração de pessoas, é imprescindível que o restaurador, além do conhecimento teórico a respeito do ser humano, do submundo das drogas e seus imprevisíveis desdobramentos, saiba transpor com precisão os conhecimentos teóricos que detém para a prática com êxito na vida do recuperando/ressocializando.

É preciso gritar aos quatros cantos que o Brasil tem Know-How em restauração de vidas de dependentes químicos, sobretudo porque o povo brasileiro está familiarizado apenas com restauração de obras de arte, logradouros públicos, patrimônio cultural, mas também é perfeitamente possível restaurar pessoas. Afirmo que mesmo sendo um processo difícil, demorado, dispendioso e dolorido, é perfeitamente possível restaurar pessoas.
Acontece que para a restauração de objetos, é necessário que o restaurador seja exímio conhecedor de objetos de arte e domine com precisão os conhecimentos e as técnicas do seu ofício. Assim, se torna um profissional exitoso e renomado. Na restauração de pessoas, é imprescindível que o restaurador, além do conhecimento teórico a respeito do ser humano, do submundo das drogas e seus imprevisíveis desdobramentos, saiba transpor com precisão os conhecimentos teóricos que detém para a prática com êxito na vida do recuperando/ressocializando.
Um Restaurador de Vidas é alguém vocacionado, apaixonado pelo ser humano. Por essa razão, é capaz de amar incondicionalmente. Quando comecei a trabalhar nessa área, a maioria desses profissionais eram voluntários, que iniciaram seus ministérios por amor a Jesus e ao próximo. Muitos entendendo muito pouco dos problemas existenciais humanos, mas sentiam um desejo intenso de aprender, de ser útil ao próximo. Naquela época sentíamos como sendo um chamamento divino (do Doce Espírito Santo).  Uma vez convocados para prestar auxílio a pessoas vivendo problemas existenciais relacionados as drogas e ou delinquência atendiam prontamente ao chamado. Esse foi o meu caso e, o de milhares de pessoas no Brasil e no Mundo. Aproveito essa oportunidade para prestar minha homenagem ao pioneiro da Restauração de Pessoas na América do Norte, o saudoso e amado David Wilkerson, o amado irmão, Nick Cruz, que continua seu ministério até nos dias de hoje. E também não poderia deixar de lembrar da Missionária Ana Maria Brasil, que foi a primeira Restauradora de Vidas Brasileiras. 
Esse profissional operacionaliza não apenas porque detém uma titulação acadêmica, fez algum treinamento nessa área, mas porque vivenciou a complexidade do mundo da drogadição, até o âmago da sua alma. Por essa razão, sua intervenção é concisa e oportuna, o que dá conforto e maior segurança a qualquer equipe multidisciplinar, além de alavancar o êxito da restauração.
O Restaurador de Vidas é uma espécie de referência, professor, confidente do recuperando/ressoalizando, sua pessoa de confiança, aquele que abre caminho para que o restante da equipe possa fincar os preciosos e indispensáveis vínculos afetivos. E mais precioso, esse tipo de profissional se torna, quando ele é alguém que já  teve uma profunda experiência pessoal no submundo das drogas e/ou do crime, conseguiu sua recuperação, e no decorrer do seu processo de restauração decidiu dedicar sua vida à outras pessoas que passam pelo mesmo problema.
Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa, com experiência de mais de três décadas em tratamento de dependentes de substâncias psicoativas e em delinquência juvenil. Palestrante e autora do blog http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br/


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

É preciso estabelecer metas aos profissionais que lidam com dependentes de SPA

Sem uma referência adequada de como  trabalhar corretamente, esses profissionais continuarão impossibilitados de assistir, acolher, restaurar e reinserir os dependentes químicos com sucesso!

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preciso estabelecer metas aos profissionais que lidam com dependentes de SPA
Para que o tratamento de dependentes de Substâncias Psicoativas (SPA) tenha resultados positivos, é preciso garantir um amplo entrosamento de todos os segmentos que têm conhecimento e experiência nesse tipo de enfermidade. Ou seja, nos assuntos pertinentes à drogadição, precisamos de uma atuação em rede por parte de todos que têm a obrigação de assistir, acolher, restaurar e reinserir os dependentes químicos.
Penso que uma forma de comprometer definitivamente todos que trabalham na área de restauração de vidas é a promoção de uma política de trabalho focada na responsabilidade pelo cumprimento de metas. Estas precisam ser estabelecidas e atingidas urgentemente pelos gestores das políticas públicas para programas de restauração de vidas ou ressocialização de presos.
A restauração de vidas, que antes era banalizada e rechaçada, vem ganhando espaço. Isso porque ao longo de mais de três décadas provou sua viabilidade: sim, é possível sim restaurar vidas. Entretanto, não é fácil. Trata-se de um processo demorado, dolorido e dispendioso. Por essa razão, todos os gestores e suas equipes devem ser comprometidos com metas, que devem ser respeitadas e cumpridas.
Lógico que não estamos falando de objetivos aleatórios, mas de um percentual que ao longo dos anos têm se confirmado como perfeitamente possível de ser atingido por dependentes ou delinquentes, sobretudo devido à contribuição de gestores que têmknow-how no assunto. Aliás, nenhuma decisão nessa área pode ser tomada de forma aleatória.
Pela vivência adquirida na área de dependência química e delinquência, acredito na imperiosa necessidade de se estabelecer o cumprimento de metas como umas condições sine qua non para garantirmos êxito e evitarmos os desperdício de vidas e do dinheiro público com as políticas e programas para restauração de vidas de dependentes em SPA, assim como a ressocialização de presos.
Quem atua na área com seriedade, sabe que é possível ressocializar a grande maioria dos presos. É o que confirma a especialista em políticas de amparo ao preso, Dra. Lúcia Casali, que trabalha há mais de 30 anos lidando do delinquentes. Segundo ela, até 70% dos detentos podem ser recuperados se tiverem a chance de estudar e trabalhar. Isso, por sua vez, ajudaria a diminuir a superlotação nos presídios. Por analogia, poderíamos transportar esse índice de 70% que Casali assegura ser possível atingir na restauração de pessoas que cumprem penas pela práticas dos mais diversos crimes, para o dependente de SPA? Sim. Esse percentual pode e já foi aprovado com êxito dentre os dependentes em SPA de baixa renda.
Quem tem know-how na área de dependente de baixa renda sabe que existe um caminho natural que esse paciente vai percorrer dentro do complexo e perigoso labirinto das drogas. Por quê existe esse caminho sinistro? Porque um indivíduo pobre e sem trabalho, tendo que bancar os custos do vício, vai se embrenhar pelos caminhos do vício ou da prostituição. Esse é um dos abismos que separa meninas e meninos ricos dos pobres. Os primeiros podem contar com seus pais ou seus prepostos, que se disponibilizam a administrar toda a parte financeira que envolve o risco no convívio do dependente com as pessoas ligadas ao tráfico, evitando o contágio. Já os segundos, sem recurso algum, aderem ao crime.
Outro fator importante é que adictos têm que saber que há um futuro diferente para eles e que devem se subordinar a um programa de restauração de vidas. Não interessa se esse programa acontecerá em regime de internato ou regime aberto. Uma vez diagnosticada a necessidade do tratamento, ele precisa ser feito. Há autoridades públicas que são responsáveis pela fiscalização para evitarmos possíveis excessos e garantir que os direitos fundamentais sejam garantidos. Isso sim está garantido num processo democrático pela nossa constituição, mas não são cumpridos para com os dependentes de baixa renda.
Por essa razão, temos que lutar persistentemente para que haja fiscalização efetiva por parte do poder público, a fim de salvaguardar os direitos dos mais necessitados. E para reforçar a garantia da segurança, por certo, é importante que seja criado um serviço de Disque Denúncia específico para denunciar abusos e facilitar a apuração dos mesmos.
Ontem recebi a mãe de um dependente menor de 17 anos, com raquitismo, a ponto de esse adolescente ter a aparência de uma criança de 12 anos. Ela protocolou um pedido na Justiça solicitando permissão para o internamento compulsório para seus dois filhos em 2012, no Fórum Regional da Lapa, mais precisamente na Vara da Infância e Juventude. Passados mais de um ano, após essa mãe perder o filho mais velho e o mais novo se encontrar numa situação deplorável, a Justiça ainda não providenciou o internamento desse menor que restou. Quem responderá pela vida desse adolescente?
Justiça morosa na minha opinião não é apenas injustiça. O destinatário do pedido e quem mais possa está contribuído para procrastinar esse pedido e milhares iguais a esse deveriam responder pelo crime de omissão de socorro seguido de morte. E sabe por que ninguém responde pelas tragédias acometidas a essas pessoas? Porque elas não têm representatividade social nem política. E essa categoria de pessoas não tem nenhum outro valor para mídia, que não seja fazer parte da estatística de morte que, ajudar a vender mais notícias.
Portanto, não vejo outra forma que não seja o compromisso com metas, com percentuais definidos para equilibrar o desempenho dos funcionários públicos que atuam nessa árdua área. É imprescindível que o direito à vida preceda a qualquer outro direito. Ou seja, ao direito a vida há de se submeter todos os demais. No Brasil, a saúde mental carrega uma grande macula e há uma pendência horrorosa e secular para com esse tipo de paciente. E para que o mesmo não aconteça com as vitimas da dependência em SPA, precisamos enfrentar e gerir adequadamente cada passo dos programas de restauração de vidas para garantir que tenho começo, meio e fim.
Tudo isso pode e deve ser feito, começando pelos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs), que precisa urgentemente de uma releitura dos seus objetivos e principalmente nos seus procedimentos, sob pena sim, dos CAPs se consolidarem, principalmente nas grandes metrópoles, como manicômios abertos, o que desonerará o Estado dos custos e das responsabilidades sob a segurança e a vida desses pacientes. Fato muito comum num país que banaliza as tragédias de pessoas de baixa renda, mas que deve ser repudiado principalmente nas grandes metrópoles sob pena de autorizar o Poder Público de usar o nosso dinheiro para programas higienistas e eleitoreiros.
Sem esta conscientização por parte dos governantes, da sociedade civil e dos profissionais da área, é o mesmo que tentar enxugar gelo com o dinheiro público. O resultado será, lamentavelmente, apenas mais cadáveres (lembrando o renomado jurista argentino Rául Zaffaroni). Quem conhece as características do crack sabe que as consequências desse tipo de droga são velozes e devastadoras e há um contingente de crianças, adolescente e jovens que já foram vitimados e outro tanto está na iminência de morrer precocemente se nada for feito para protege-los.
Assista à entrevista de Lúcia Casali para o Programa Sem Censura, transmitido no dia 21/05/2011 pela TV Rondon SBT MT – BR:
Maria da Conceição Damasceno Cinti
Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa, com experiência de mais de três décadas em tratamento de dependentes de substâncias psicoativas e em delinquência juvenil. Palestrante e autora do blog http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br/

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Investimentos em políticas públicas de recuperação de dependentes químicos devem ser monitorados com mais precisão para que a recuperação aconteça de fato


Além do acolhimento, a garantia na sequência do tratamento, com início, meio e fim, é extremamente importante na ressocialização/recuperação de um dependente de drogas.


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Investimentos em polticas pblicas de recuperao de dependentes qumicos devem ser monitorados com mais preciso para que a recuperao acontea de fato
Ainda sobre o tratamento de dependentes de Substâncias Psicoativas (SPA), o amplo entrosamento de todos os segmentos que têm conhecimento e experiência prática sobre esse tipo de epidemia precisa ser respeitado. Sem isso, teremos uma solução capenga e ainda mais demorada para se obter resultados, o que significa mais cadáveres (lembrando o renomado jurista argentino Rául Zaffaroni). Quem conhece as características do crack sabe que as consequências desse tipo de droga são velozes e devastadoras.
Alguns já têm conhecimento de que o tratamento dos dependentes químicos tem início com o acolhimento, porém, muitos ainda confundem ‘recolhimento aleatório’ com acolhimento. Essas duas ações são totalmente diferentes. Diferentemente do recolhimento aleatório, o acolhimento pressupõe envolvimento humanitário e afetivo, que se constitui no eficaz amparo a alguém em total estado de vulnerabilidade sem que haja desrespeito aos direitos fundamentais do ser humano.
Ainda sobre a fase do acolhimento, considero uma das mais importantes no tratamento do dependente. Dessa etapa depende o êxito das demais, porque é nela que surge a empatia entre o paciente e a equipe. É nela que todo esforço dos profissionais envolvidos deve estar voltado para cativá-lo. Esse fato determinará o surgimento de um ‘comando’ e a aceitação do paciente em se deixar conduzir. Contudo, isso só é possível dentro de um contexto de respeito incondicional ao paciente.
Mesmo tendo ciência da importância dessa aproximação, muitos profissionais atuam de forma preconceituosa e indiferente em relação aos dependentes químicos de baixa renda, o que pode prejudicar todo processo de restauração do paciente. Por isso, é imprescindível que os profissionais que acompanham dependentes químicos se livrem de seus preconceitos e busquem cada vez mais acolher, ouvir e entender para tratar os pacientes de forma adequada, contribuindo para o sucesso do tratamento.
Além disso, é preciso uma mudança de olhar por parte do gestor desse tipo de programa. O mesmo que deve criar e implantar políticas públicas restaurativas e medidas socioeducativas no sentido de agregar valor à titulação acadêmica, que por si só não é suficiente para conferir ao gestor capacidade de administrar com êxito o recuperando.
Além do acolhimento, a garantia na sequência do tratamento, com início, meio e fim, é extremamente importante na ressocialização/recuperação de um dependente de drogas. O tratamento desses pacientes não deve, jamais, ter em vista o menor ônus aos cofres públicos, mas a continuidade das fases do programa, por meio das quais o recuperando vai aprendendo o passoapasso para se autodisciplinar e atingir o autocontrole sobre suas emoções, sentimentos e pensamentos. Somente essa disciplina o conduzirá à libertação da dependência.
É isso, salvo qualquer engano de minha parte, é o que ainda não parece bem definido pelo Governo. Talvez essa indefinição ainda esteja acontecendo devido ao grande número de dependentes, à falta de espaço físico adequado, além de pessoal capacitado e em número suficiente para atender adequadamente à demanda.
O certo é que, até o presente momento, não temos informações transparentes sobre como está acontecendo na prática a sequência do tratamento oferecido pelo Poder Público ao dependente químico de baixa renda. Um exemplo disso são os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que infelizmente ainda não têm um critério de atendimento que possibilite fácil acesso ao paciente de forma a assegurar que o recuperando dê continuidade ao tratamento.
Ao analisar o atendimento prestado por esses Centros Públicos, onde os pacientes são medicados e retornam para o convívio natural, podemos perceber que estes muitas vezes saem fisicamente mais fortalecidos em relação aos seus vícios, indo direito para as ‘bocas’ ou bares a fim de continuar a usar drogas. Isso acontece porque não é dada a eles nenhuma garantia de que irão prosseguir em tratamento. Percebe-se, portanto, que o atendimento realizado pelos CAPS não alcança seu objetivo e se constitui em mais um procedimento higienista de ruas que visa apenas o retorno político.
Maria da Conceição Damasceno Cinti
Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa, com experiência de mais de três décadas em tratamento de dependentes de substâncias psicoativas e em delinquência juvenil. Palestrante e autora do blog http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br/

domingo, 21 de setembro de 2014

Dependente químico de baixa renda deve ter direito a tratamento com início, meio e fim

*Conceição Cinti

Trabalho das equipes jamais deve ser pautado pelo que é mais adequado ou menos oneroso aos cofres públicos, mas na recuperação do paciente.






Como expus em meu artigo anterior, o comprometimento pessoal das Comunidades Terapêuticas (CTs) e suas equipes com seus pacientes faz toda a diferença, fato que pode ser confirmado pela média de mais de 70% de vidas restauradas. Contra fato não há argumentos e ponto.
Ora, se o Brasil tem esse preciso Know-How, por que não somar forças para enfrentar essa epidemia? Porque há total ausência de vontade política e, quando há, ela está comprometida com pessoas que por algum motivo conseguem impedir que o gestor Federal cumpra as propostas feitas para área.
Outro fato de extrema importância na recuperação/ressocialização de um dependente de drogas é a garantia de sequência no tratamento, pois este deve ter início, meio e fim. Sendo assim, o trabalho das equipes jamais deve ser pautado pelo que é mais adequado ou menos oneroso aos cofres públicos, mas na recuperação do paciente.
É através das fases do programa que o recuperando vai aprendendo o passo a passo para se autodisciplinar e atingir o autocontrole sobre suas emoções, sentimentos e pensamentos. Essa disciplina o conduzirá à libertação da dependência. É isso, salvo qualquer engano de minha parte, que ainda não parece bem definido por parte do Governo.
O certo é que, até o presente momento, não temos informações transparentes sobre como acontece na prática a sequência do tratamento oferecido pelo Poder Público ao dependente químico de baixa renda. Esse fato merece uma profunda e urgente reflexão, principalmente quando o paciente é dependente de crack, pois se trata de dependência severa. Portanto, ao colocar em prática cada uma das políticas públicas elaboradas, é preciso ter mais consciência sobre se o trabalho desempenhado corresponde ao investimento público que foi feito.
Enquanto não é possível obter essa total transparência, sigamos sempre atentos e com olhar crítico e construtivo acerca de cada uma das políticas públicas destinadas à nossa sociedade e com a certeza de que precisamos deixar de ser o país do imediatismo. Quanto à possibilidade de recomeçar, acredito que só será possível se conseguirmos contemplar a integralidade do mundo das drogas para que possamos compreender e decidir adequadamente sobre cada medida adotada como parte do todo.
A luta contra as drogas é um dever de todos os cidadãos, porém, a severa discriminação imposta pela Sociedade Civil ao dependente químico, inclusive à criança e ao adolescente, só terá fim com intervenções planejadas do Estado, que demonstrem a sensibilização como melhor saída, gerando um espírito de solidariedade nacional.
O desafio é mostrar os benefícios, que por certo virão quando a postura destrutiva da discriminação e do uso desnecessário e exclusivo da repressão com essas pessoas visivelmente enfermas der lugar a uma postura humilde, que verdadeiramente promova a recuperação e a reinserção.
É nesse contexto que a mídia assume um papel fundamental, enquanto um poderoso instrumento democrático, e ‘abre alas’ para levar a sociedade e os Governos a refletirem sobre suas responsabilidades. E porque não usar a sua influência na sociedade para transmitir que o acolhimento com amor é o caminho para proteger e tratar nossas crianças e jovens e que a artilharia pesada deve ser empregada para o devido enfrentamento ao tráfico de drogas.
Nessa guerra, duas frentes precisam ser consideradas: enfermos a serem assistidos e tratados até serem restaurados e criminosos que precisam ser contidos e mantidos presos incomunicáveis. O fato é que as mudanças culturais e sociais se processam muito lentamente e, enquanto isso, a vida e os direitos dos nossos meninos e meninas precisam ser urgentemente protegidos.
Nesse sentido, o Estado detém um valioso instrumento que nos permitirá transpor esse fosso com mais rapidez, conforme exige a situação: a negociação! Esse sim é o instrumento apropriado. A luta no enfrentamento às drogas é dever de todos.
Precisamos não apenas refletir sobre essa epidemia que estamos vivendo no Brasil, mas nos engajarmos nessa luta, por uma sociedade melhor para nossas crianças, adolescente e jovem, que tem sido as maiores vitimam de homicídios na guerra gerada pelas drogas.
*Conceição Cinti. Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa,com experiência de mais de três décadas em Tratamento de Dependentes de Substâncias Psicoativa, e ou Delenquencia Juvenil. Palestrante. Articulista de alguns renomados Sites, autora do blog http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br/



Restaurar vidas é acolher, amar e acreditar no dependente de SPA



Além da necessidade de investimento massivo em políticas públicas no setor, o mais importante para esses dependentes é o acolhimento amoroso e dedicado de todos que o cercam, desde a família, até os profissionais que estão encarregados de restaurar suas vidas!

Antoine de Saint-Exupéry: “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos!”

De lá para ca, muito foi prometido e pouco foi executado. Por quê? Porque temas como ‘drogas’ e ‘dependentes químicos de baixa renda’ nunca foram prioridade para nossos governantes. Não temos tradição em políticas públicas preventivas de alcance à família e à escola. Também nunca demos a devida importância aos programas de Restauração de Vidas. Isso porque Governo e sociedade civil não acreditaram esse tipo de iniciativa. A palavra ‘Restauração’ sempre foi um assunto restrito a objetos de arte e não a seres humanos, mas também é perfeitamente possível restaurar pessoas. Entretanto, é preciso dizer que é difícil, demorado e dispendioso, não arrecada votos e requer investimento de tempo. Por certo, essas são as razões porque a proposta de Restauração de Vidas sempre foi rechaçada pelos políticos, juntamente com o aval dos cientistas.
É verdade que não há chás, comprimidos, injeções, supositórios, acupuntura, choques, procedimentos psicológicos e psiquiátricos que por si só sejam capazes de curar um dependente em substâncias psicoativas. O discurso nessa área é polarizado entre o ponto de vista da Comunidade Cientifica (CC) e o da Comunidade Terapêutica (CT). A primeira sempre perseguindo a segunda porque é a Comunidade Terapêutica, e não a Comunidade Cientifica, a pioneira a ser exitosa na área de drogadição desde os idos da década de 60, quando nasceu a primeira Comunidade Terapêutica no Brasil, mais precisamente na cidade de Goiânia-GO.
A Comunidade Terapêutica surgiu, a princípio, com um apelo puramente religioso/espiritual e de amor incondicional ao ser humano. Quando falo de espiritual, para ser mais precisa, estou me reportando ao poder do Espírito Santo, que para os que crêem (que são a maioria em nossos país) apenas o Espírito Santo tem condições de entrar e curar áreas da nossa alma, compreendida por nossos pensamentos/emoções e sentimentos.De lá para ca, já se foi quase meio século e a Comunidade Terapêutica nunca menosprezou nem banalizou o sofrimento de seus pacientes, operacionalizando sempre com dedicação, respeito e persistência. As CTs, na verdade, funcionam como um consultório/laboratório, que por meio das experiências vivenciadas pelos líderes e suas equipes puderam estudar os hábitos, costumes, sintomas/dores físicas, mentais, psicoemocionais e espirituais dos seus alunos/pacientes e encontraram alternativas que somaram para dignificar o ser humano. As CTs também incorporaram tudo o que há disponível na ciência para trazer mais libertação e alívio aos seus pacientes.
Nesse meio tempo, a Comunidade Científica não trouxe novidades, nem no campo farmacológico, pois continua objetivando manter o domínio e a última palavra sobre o dependente químico. A única “mudança” foi a substituição da camisa de força de pano pela camisa de força química. Outra problemática na atuação das CCs é que elas consideram o dependente em SPA como um doente incurável, afirmação que vem comprometendo o futuro de milhares de pessoas. Quando digo a alguém que ele é um doente incurável, retiro dessa pessoa e de sua família a esperança de um amanhã diferente.
Todo dependente é um doente, mas não incurável. Todos podem ser curados, mas nem todos são curados, de fato. Para que isso seja possível, é importante que se utilize a metodologia adequada. Outro fator importante é o quanto de amor e tempo os pais, familiares e a equipe multidisciplinar estão dispostos a investir na vida do dependente. Esse fato, sim, faz toda a diferença!

*Conceição Cinti. Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa. Especialista em Tratamento de Dependentes em Substancias Psicoativa, e ou Delinquência Juvenil, com experiencia de mais três décadas. Palestrante e articulista de alguns renomados sites. Me encontre no Jusbrasil e no http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Desunião entre Comunidade Cientifica e Comunidade Terapêutica compromete o avanço na Restauração de Vidas de Dependentes de SPA, de baixa Renda



A restauração de vidas dos dependentes de drogas é um assunto delicadíssimo e ainda não pacífico Por essa razão, é preciso muita cautela na sua gestão para não comprometermos esse significativo avanço após décadas de indiferença, descaso, descrédito por parte daqueles que tinham a obrigação de cuidar.

Publicado por Maria da Conceição Damasceno Cinti - 5 horas atrás
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Desunio entre Comunidade Cientfica e Comunidade Teraputica compromete o avano na restaurao da vida de dependentes de SPA
A discussão sobre o tratamento de recuperação de dependentes químicos está em pauta ultimamente após ir a público a notícia da resolução do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) - que proíbe as comunidades terapêuticas incluir religião no tratamento de recuperação dessa parcela da população. A meu ver, esse documento representa o reforço da falta de vontade política (Governo Federal) e da Comunidade Cientifica, que insistem em desestabilizar a Comunidade Terapêutica. Em vez de somar para otimizar o resultado do enfrentamento que um país epidêmico precisa implantar, esses representantes seguem na contramão de tratamentos completos e realmente efetivos.
Acredito que o grande hiato que separa a Comunidade Terapêutica da Comunidade Cientifica é o fato de a Comunidade Cientifica atestar que o dependente químico é um doente incurável. Esta afirmação que a Ciência ainda não tem uma resposta autônoma para esse tipo de enfermidade é intransigente e severa. Porém, é sabido que redirecionar o futuro do ser humano é algo muito sério. Quando dizemos a uma pessoa dependente em SPA (ou a seus pais) que ela é incurável retiramos dele (a) e da sua família a única chance de lutar pela sua restauração.
Nesse contexto, as pessoas de menor poder aquisitivo, por não terem condições financeiras para pagar uma clínica particular, saem ganhando. Ao recorrer à Comunidade Terapêutica, estas contam com aliados à sua restauração e renovam suas forças para lutar, sobretudo porque a Comunidade Terapêutica acredita e investe na Restauração de Pessoas.
Tratamentos
Hoje, no Brasil, temos dois tipos de metodologias que vêm sendo utilizadas isoladamente no tratamento do dependente químico, a da Comunidade Terapêutica e a da Comunidade Cientifica. A primeira, que sempre foi criticada severamente pela segunda, tem no Poder de Deus e seus ensinamentos a coluna mestra dos seus programas de restauração de dependentes em SPA, apesar de não dispensarem os recursos da ciência na cura do dependente químico. Esta reconhece que o ser humano é trino e que existem áreas das nossas vidas que apenas o Espírito Santo poderá adentrar e tratar. Já a segunda, tem somente nos estudos científicos a solução (ou não solução) para a problemática.
Com o lançamento pelo Governo Federal do denominado ‘Cartão Recomeço’, programa para dependentes químicos, houve grande expectativa de que a bandeira branca fora hasteada entre as duas comunidades e que o Governo e a Comunidade Cientifica. A partir daquele momento, elas somariam suas atuações pela restauração de vidas, que antes só era admitida pelas Comunidades Terapêuticas. Lamentavelmente, o Governo, ao invés de fazer uso da vontade política para somar a favor da restauração de vidas, permite a divisão e, pior ainda, abre espaço para uma perseguição religiosa. Infelizmente, um grande retrocesso.
Especialistas x experientes
É importante valorizar o trabalho dos especialistas, mas é também igualmente imprescindível reconhecer o trabalho de quem tem experiência de campo na área. Entretanto, não é admissível que uma pessoa seja considerada um especialista, mas que não consiga operacionalizar na prática. Por isso, precisamos respeitar aqueles que de alguma forma foram pioneiros e obtiveram êxito numa área tão complexa como essa.
Salta aos olho que é urgente a necessidade de integração entre o Governo e os verdadeiros especialistas, sendo esse o primeiro desafio. O combate a essa endemia causada pelas drogas somente acontecerá com uma perfeita articulação. A participação da sociedade civil e da opinião pública é um novo paradigma para enfrentar o problema das drogas, que hoje está menos centrado nas ações penais para ser mais inclusivo no plano da sociedade e da cultura. As novas políticas devem, dentre outras medidas, contemplar e valorizar mais práticas religiosas e estudos científicos. É importante que estas deixem de lado princípios ideológicos e preconceituosos, na prática.
Além do conflito religioso e de preconceito, acredito que esse grande impasse entre Comunidade Terapêutica e Comunidade Científica tem origem na disputa pela divisão da verba que foi destinada pelo Governo Federal para as C. Cientificas (clinicas particulares que abrigam dependentes químicos) e C. Terapêuticas, que são em maior número. Portanto, antes de pensar somente em fatores culturais, também é importante observar uma série de fatores, sobretudo os de interesse financeiro, que estão envolvidos em propostas como as do CONAD.
Enfim, a construção de alternativas é um processo necessário para fazer frente à lacuna da ciência para a cura do adicto. Requer, ainda, um esforço para reunir o Governo Federal, profissionais da saúde, educadores, líderes espirituais, instituições de justiça e de segurança, líderes espirituais, famílias, formadores de opinião e a imprescindível mídia. Cada país é único, tem suas particularidades e deve enfrentar o desafio das drogas por meio do amplo debate público sobre a gravidade do problema e buscar as políticas mais adequadas à sua historia e à sua cultura, sem espaço para preconceitos e indiferenças.
A restauração de vidas dos dependentes de drogas é um assunto delicadíssimo e ainda não pacífico Por essa razão, é preciso muita cautela na sua gestão para não comprometermos esse significativo avanço após décadas de indiferença, descaso, descrédito por parte daqueles que tinham a obrigação de cuidar. Quando o bem a ser protegido é a vida, tudo o que possa vir a somar com dignidade é bem-vindo!
Todo dia é dia de lutar pela vida e contra a violência gerada pelas drogas!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014



Aos caros seguidores do "Educação Restaurativa" recomendo que assistam na íntegra, o vídeo do
Senador Magno Malta,  para melhor compreensão do texto que aborda um tema que ainda acarreta muita polemica.


http://youtu.be/W47LbsD4O0E

Religião é imprescindível no tratamento de dependentes químicos



Por Conceição Cinti

Após denúncia feita pelo senador Magno Malta PR/ES, em sessão plenária realizada em 20 de agosto de 2014, no Senado Federal, a qual versa sobre a resolução do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) - que proíbe as comunidades terapêuticas incluir religião no tratamento de recuperação de dependentes químicos, me senti na obrigação de trazer aqui o discurso de uma profissional que atua há décadas com essa parcela da população brasileira.
Ao meu ver, esse documento representa o reforço da falta de vontade política (Governo Federal) e da Comunidade Cientifica que insistem em desrespeitar a Comunidade Terapêutica. Em vez de somar para otimizar o resultado do enfrentamento que um país epidêmico precisa implantar, esses representantes seguem na contramão de tratamentos completos e realmente efetivos.
Por isso, começo com as propostas absurdas contidas na resolução federal que será editada em setembro pela presidente Dilma, e que tem como um dos autores Vitore Maximiliano, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. A mais polêmica delas diz que “clínicas de dependentes químicos, comunidades terapêuticas não poderão mais falar sobre religião”. Ainda de acordo com o documento, o tratamento feito nesse tipo de comunidade é questionável, pois combina ciência médica com dogmas religiosos e, na verdade, deveria ser laico.
Em seu pronunciamento, o senador Magno Malta diz que é preciso vetar esse documento o mais rápido possível, “cortar o mal pela raiz antes que ele cresça”. O político, que há 35 anos investe em trabalhos que visam tirar os dependentes de substâncias psicoativa das ruas, sobretudo por meio do ‘Projeto Vem Viver’, reforçou que “são os religiosos que estão na ponta dessas entidades que atuam na área”. Ainda segundo ele, o dependente químico não precisa somente de uma estrutura material e cientifica para se recuperar, ele carece de amor, afeto e de alguém que esteja disposto a colocar a vida a serviço dele.       
Como conhecedora do assunto, concordo com as bem postas palavras de Malta e reafirmo que não há comprimido chá, xarope, injeção, pastilha, gotas, supositório, adesivo, fisioterapia, acupuntura, procedimento psicológico, psiquiátrico que por si só traga a cura ao dependente de substâncias psicoativa. Em outras palavras, a ciência ainda não tem resposta para esse mal, mas as pesquisas continuam incessantes e qualquer novidade será bem-vinda.
Enquanto isso, na prática, os médicos têm usado os recursos disponíveis da psiquiatria, psicologia e farmacologia para auxiliar esse novo tipo de paciente. A velha camisa de força (de pano) foi substituída pela camisa de força química, que imobiliza o portador de dependência severa evitando sua morte por overdose ou debilitações múltiplas, possibilitando seu atendimento emergencial.
O problema é como cuidar desse paciente, após sobreviver à emergência? Os atendimentos a esse público-alvo são feitos através das clínicas particulares, cujos pacientes são pessoas de maior poder aquisitivo, e nas Comunidades Terapêuticas, e mais recentemente pelo o SUS (mais especificamente através dos CAPS), que atendem pessoas de baixa renda. Porém, é do conhecimento público que o tratamento para esse tipo de dependente é um quesito que ainda desafia a área médica e tem provocado alguns equívocos.
Comunidade Científica x Comunidade Terapêutica
A Comunidade Cientifica sempre soube da ausência do Estado na assistência ao dependente de baixa renda, bem como da existência do atendimento exitoso aos dependentes, sobretudo por instituições filantrópicas e entidades religiosas, desde a década de 60. Também é sabido que a primeira Comunidade Terapêutica voltada exclusivamente para o atendimento e restauração ao adicto foi criada em 1967, na cidade de Goiânia, pela missionária Ana Maria Brasil. Sendo assim, é fato que a Comunidade Terapêutica Cristã foi pioneira nesse complexo atendimento humano.
Retomando o que eu já disse em entrevista concedida a renomado Portal Atualidades do Direito, sempre houve um desconforto por parte da Comunidade Cientifica em relação a esse tipo de atendimento/acolhimento, em sua maioria realizados com excelência pelas Comunidades Terapêuticas, para dependentes químicos de baixa renda. Aliás, esse público nunca foi o foco da Comunidade Cientifica.
Nota-se, então, que Comunidade Cientifica e Comunidade Terapêutica sempre caminharam separadamente e têm posições antagônicas no trato com o dependente de SPA. É importante clarificar que estão totalmente equivocados os que tentam manter o distanciamento entre esses dois preciosos seguimentos. Essa separação em nada soma para o bem estar da sociedade. Pelo contrario, é nociva aos desfavorecidos acometidos pelas drogas e ainda reforça o efeito bumerangue.
O consistente e persistente atendimento a esse tipo de paciente, que voluntariamente foi iniciado pelo Terceiro Setor (embora alguns tentem sabotar a qualquer custo), consiste, primeiramente, num singelo e sincero investimento de amor na vida do próximo. Graças a esse singelo atendimento de amor é que o Brasil evoluiu nessa área e que hoje podemos dizer que o Brasil tem ‘Know How’ em tratamento de dependente em SPA, sobretudo devido à atuação das Comunidades Terapêuticas (evangélicas e católicas) e das diversas outras religiões e grupos que serão sempre bem-vindos e imprescindíveis para somar e fazer a diferença.
Sabemos que o problema é complexo e delicadíssimo, mas o Brasil precisa urgentemente encarar essa realidade. Costumo dizer que Restaurar vidas é difícil, demorado, dispendioso e dolorido, mas é perfeitamente possível. Porém, dá muito trabalho e não arrecada votos. Pense nisso!
 Todo dia é dia de lutar pela vida e contra a violência gerada pelas drogas!
*Conceição Cinti. Advogada e Educadora. Precursora da Educação Restaurativa. Especialista em Tratamento de Dependentes de Substancias Psicoativa, com experiência de mais de três décadas. Colunista de sites importantes e palestrante. 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Presos versus Celurares





*Conceição Cinti

De acordo com o STJ, a posse de telefone celular pelo reeducando preso quebra regra básica da execução penal, qual seja, sua incomunicabilidade com o mundo exterior (HC 64.442/RJ).
No sentido desta orientação é que desde 2007 (com a Lei 11.466/07), a Lei de Execução Penal considera falta grave ter, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
Vergonhosa essa Jurisprudência e um grande equívoco legislativo a Lei 11.466/07, que impõem a todos os presos o regime da incomunicabilidade com o mundo externo no cumprimento da pena privativa de liberdade, generalizando e igualando todos os presos numa mesma categoria: a de pessoas perigosas à segurança nacional.
Essa proibição generalizada fere o princípio do verdadeiro sentido da ressocialização porque, conforme elucidaremos neste texto, impedir a comunicação com o ambiente externo, dificultando o contato do preso comum com seus familiares, compromete diretamente a ressocialização.
Em recente pesquisa do IAB, o Dr. Luiz Flávio Gomes indicou Brasil e Noruega em situações diametralmente opostas nos índices de reincidência. Enquanto em nosso país a taxa de reincidência chega a 70%, na Noruega o índice de reabilitação é  80%O referido artigo precisa ser lido como reflexão, em especial, pelas pessoas que são radicalmente preconceituosas, que apostam apenas na repressão e na vingança, e não na restauração de pessoas, o que é perfeitamente possível em qualquer parte do mundo e não somente na Noruega, (Fonte: http://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/direito-criminal/artigo-prof-luiz-flavio-gomes-noruega-como-modelo-de-reabilitacao-de-criminosos).
Como alterar esse quadro? Em verdade, há MUITO a ser melhorado. Falta vontade política, mas o caminho não é desconhecido: é preciso melhorar os espaços nos presídios, garantir educação, profissionalização, prática esportiva bem como inserir nestes ambientes a ministração dos princípios do Cristo (que quebranta o coração e humaniza as pessoas)... Enfim, há uma série de providências que o Estado tem obrigação de fazer, sabe e não faz. E não age porque é mais fácil suprimir direitos daqueles que não possuem representatividade. 
Neste contexto de direitos que são inobservados pelo Estado e que se constituem em verdadeiros obstáculos à recuperação do preso, a interação com a família há de ter destaque central. O apoio familiar é altamente pedagógico e constitucionalmente garantido (assistência familiar – art. 5º, LXIII, CF/88). Daí defendermos o uso do telefone celular pelos presos.
E notem, não estamos falando do uso do telefone pelo preso para acesso a contatos ou práticas delituosas, que coloquem em risco a segurança da nação, estamos falando sim do simples uso do telefone para o acesso do preso à família, nos moldes assegurados pela Constituição Federal.
Não há dúvidas que é preciso assegurar, a qualquer custo, a incomunicabilidade do preso que representa perigo à segurança nacional. Temos assistido com frequência que, de dentro dos presídios, essa categoria de pessoas por meio do telefone celular, articulam-se e comandam externamente não apenas o riquíssimo mercado das drogas e das armas, mas também exercem influência direta nos crimes organizados.
No entanto, essa categoria de pessoas não representa a maior parte da população carcerária. Sabemos que o perfil do preso brasileiro é de uma pessoa passível de recuperação e que precisa de auxílio moral para se recuperar. São pessoas que necessitam medidas que os beneficiem no processo ressocializador, e não de medidas que dificultem esse caminho de restauração.
Repito, o perfil da grande maioria da população carcerária não oferece perigo à segurança nacional a justificar o rigor da Lei 11.466/07, impondo a incomunicabilidade a todos, indistintamente.
Ocorre que para o Poder Público, o preso não tem qualquer valor. É alguém sem direito a nada, que pode até ser morto dentro do presídio, que necessariamente precisa passar por humilhações porque para essa categoria de pessoas, a pena é um mero castigo, revanche, vingança e o criminoso é um ser “lombrosiano”, um irrecuperável.
Até mesmo os espaços físicos prisionais no Brasil favorecem essa forma primitiva de pensamento, o que na prática, sabemos, é a lei que impera nos presídios e educandários brasileiros, com raríssimas exceções.
Entretanto, não é esse o papel do Estado, não pelas leis brasileiras!
Lembremos que, de acordo com nosso ordenamento jurídico, a pena é sim uma punição para que o infrator. Mas a punição deve ser resposta estatal imposta de maneira que o delinquente possa ser conduzido a refletir através de um programa de políticas públicas de restauração de vidas, a analisar a repercussão do mal que sua conduta delituosa causou à vítima e à sociedade, levando-o ao arrependimento e a reaprender outra forma de pensar e viver através da ressocialização. Este é o real objetivo da pena. E apenas dentro desse contexto o caráter punitivo da pena é válido e pedagógico.
Sabem os estudiosos e bem informados que a cultura da vingança favorece apenas a mídia populista que além de faturar com a desgraça alheia, dissemina o ódio que contamina a sociedade e a faz acreditar que não existe recuperação de pessoas, fato que é perfeitamente possível, desde que haja vontade política.
Tratamos da questão do uso do celular nos presídios. Um fato complexo, polêmico, mas que precisa ser abordado, porque é uma realidade em todos os presídios (talvez com exceção nos de seguranças máxima onde ficam os presos perigosos do país) e precisa ser enfrentado e encaminhado de outra forma, para que principalmente os pais dos presos pobres e que não oferecem perigo a segurança nacional (que são a maioria), não sejam penalizados.
A jurisprudência justifica a medida no fato de que a posse de telefone celular, por exemplo, facilitaria a gestão de negócios ilícitos dentro e fora dos presídios. Logo, por questões de segurança plenamente justificáveis, o condenado que cumpre pena no sistema carcerário brasileiro fica totalmente incomunicável com o mundo exterior pelo meio telefônico.
No entanto, se analisarmos a referida jurisprudência com a seriedade dos que buscam o direito, a igualdade e a justiça social facilmente concluiremos que se trata de mais um dos "vergonhosos arranjos legais", na tentativa de justificar a ineficiência do Poder em Público em bem aplicar a lei: lei que ordena um cumprimento de pena individualizado (art. 5º, XLVI, CF).
Ora, se o Estado disponibilizasse de agentes em número suficientes e, se esses agentes fossem capacitados, teríamos um sistema carcerário com pessoas cumprindo estritamente a pena a que foi condenado, junto de outros indivíduos nas mesmas condições. Em outras palavras, se o Estado cumprisse a lei, seria possível separar por categorias de crimes e de periculosidade cada indivíduo que adentrasse no sistema carcerário. Assim, os altamente perigosos receberiam tratamento compatível, sem necessidade de impor aos demais, condições desnecessárias de extremas privações.
Aos delinquentes de baixa periculosidade, o Estado deveria ofertar condições para sua recuperação. E sabemos que os laços afetivos com a família são preciosos e corroboram a ressocialização. Nunca se precisou tanto de reforçar os vínculos afetivos das famílias como agora. 
Embora o artigo 41, X, da LEP garanta ser um direito do preso a visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados, muitas vezes essa visita não acontece pelas razões econômicas e sociais. Há famílias pobres que residem no norte do país e tem seus filhos presos no sul, ou noutros Estados, o que inviabiliza toda a possibilidade às visitas desses pais aos seus filhos e ainda não poder falar ao celular é uma tortura imposta não mais ao preso, mas também às mães e pais.
Quando o Estado decidiu implodir o Carandiru (e não o fez por motivo nobre, nem por questão de segurança ao Paulistano, mas quis apenas criar um fato político/eleitoreiro), contaminou todo interior paulista espalhando as drogas, facilitando o acesso ao uso de armas de fogo e servindo lamentavelmente de modelo para o resto do país e não baixou o índice de violência e morte na capital, pelo contrário aumentou. A maior concentração do efetivo das polícias fica exatamente na Capital - São Paulo, portanto o Governo quando decidiu espalhar os presos pelo interior já sabia que não teria pessoal em número suficiente para atender a demanda. Nesse momento, ninguém questionou a dificuldade das famílias dos presidiários! Ora, não é inconstitucional retirar do preso seu direito assegurado por lei de cumprir a pena nas proximidades de sua comarca?
Ocorre que não importa o comprometimento da ressocialização pela ausência da família de baixa renda, que constituem a grande maioria da realidade carcerária. Afinal são apenas pessoas presas porque cometeram delitos e são irrecuperáveis, a mídia não vai pressionar,  a sociedade vai se sentir até grata e aliviada, não é?
O Brasil é um país imenso e se o Governo tivesse agido com estratégia, respeitando seus cidadãos, utilizando-se do serviço de inteligência da polícia especial e com logística, toda a sociedade lucraria e teríamos evitado esses índices inaceitáveis de drogadição, violência e mortes.
Agora, se o Estado não tem competência para gerir com êxito o preso e suas famílias (sempre os de baixa renda), eles não podem, nem devem ser mais uma vez punidos com a impossibilidade de se comunicarem!
Desta forma é que sustento a possibilidade da comunicação via telefone celular dos presos com suas famílias. E quando me refiro ao celular, como meio de comunicação, e não telefone fixo, é pelo fato de que das famílias mais pobres hoje dificilmente tem um telefone fixo comum. Até o próprio Governo disponibilizou aos mais pobres celulares e um crédito ínfimo,  mas o fez porque reconhece a necessidade e o direito da comunicação dentro da família. E mais, ao tomar essa atitude institucionalizou, oficializou que a comunicação das massas pobres passou a ser feita através do celular.
A presença da mãe através do celular além de humanitário é pedagógico, porque leva ao filho preso a esperança! Perdido ali no meio de criminosos profissionais e sem esperança nem de falar com seus entes queridos fica mais difícil elaborar, pensar numa outra forma de ser e viver.
Sabemos que a maioria dos nossos presídios são superlotados por jovens, com pouca escolaridade, pretos e pardos e procedentes de famílias de baixa renda.
A família, como grupo social que é, constitui primeiro núcleo constitutivo de uma sociedade, logo tem papel relevante na transmissão de valores, normas e modelos de conduta. Esse núcleo pode ter frustrado seu objetivo de formar cidadãos exemplares no início, ao ver um de seus membros delinquindo, continuara a ser o  único grupo capaz de acolher esse indivíduo de modo a dar lhe o apoio moral suficiente na busca da sua recuperação.
É no grupo familiar que o ser humano busca suas bases, suas crenças, seus modelos e objetivos para resgatar forças na tentativa de ser uma pessoa melhor. É para a família que um jovem sem estudo, sem emprego e sem oportunidades busca sair do mundo do crime. Se ele não tem nada, nem ninguém, também terá motivos para achar que nada tem a perder! Para quê sair das drogas e do crime?
Por esta razão, a suma importância do apoio familiar na recuperação de um indivíduo. Acreditamos sim, que o contato telefônico periódico com a família constitui necessidade básica ao interno. Tão básico como alimentar o corpo é alimentar a alma, alimentar a alma de esperança através do amor incondicional que os abnegados pais sabem dar como ninguém . Estamos cuidando de seres humanos, não esqueçamos disso jamais!
 *Conceição Cinti. Advogada e educadora. Especialista em Tratamento de Dependentes em Substancias Psicoativas e, ou, Delinquentes Juvenil. Com experiência de mais de três décadas. Colunista de vários sites e do Blog www.educacaorestaurativa.blogsport.com .  Me encontre no e-mail mcdc7373@hotmail.com