“Ensina a criança no
caminho que ela deve andar; e ainda quando for velho não se afastará dele”.
(Livro de Provérbios:
Capítulo 22, verso 6).
Ou, se preferir:
“Educai as crianças e
não será preciso punir os homens”.
(Pitágoras de Samos –
Filósofo).
As citações acima
apesar de milenares são atemporais e irretorquíveis dentro do contexto
necessário ao desenvolvimento da criança e do adolescente, por essa razão
deveriam nos conduzir a uma profunda reflexão sobre o dever da família, dos
Governantes, e também da sociedade civil, na condição de coparticipes do grande
“Pacto Social” pelo bem comum, mormente, pelo o bem estar das crianças e dos
jovens de baixa renda (que é a camada social estigmatizada pelo sistema penal brasileiro
cuja característica cultural é penalizar pessoas do sexo masculino, pobre,
preto, pardo e com menos escolaridade e, pior, jovens sem nenhuma perspectiva
de futuro. (Ver: Raio – X do cárcere brasileiro: números que
chocam).
Os jovens são o
futuro de uma nação, mas para isso é imperioso que os governantes cumpram os
princípios constitucionais e outros dispositivos legais, no nosso caso, o ECA
que complementa deveres e direitos dos menores versos obrigações do Estado.
Entretanto é do conhecimento público que no Brasil as leis são mais para
"Inglês ver", principalmente, quando para beneficiar e, o
destinatário são pessoas baixa renda.
Por que o futuro
desses jovens no Brasil está comprometido?
Pela falta de uma
educação de qualidade em regime de escola integral, que garanta além da grade
normal pertinente ensino infantil, ensino fundamental e médio, também assegure
aos jovens cursos profissionalizantes com demanda no mercado de trabalho e as
crianças e jovens praticas esportivas e culturais e entretenimento de
qualidade. Essas atividades não apenas motivam e enriquecem a formação das
crianças e jovens, mas também seria uma forma de preencher o vazio e as
distorções causados pela ausência dos pais e evitaria que esses menores
perambulassem a mercê da sorte pelas periferias comprometidas cada dia mais com
o crime organizado, dos quais na pratica eles têm sido presas fáceis aliciadas
ainda em tenra idade.
Por essa razão me
esforço para que meus artigos destaquem que a falta de perspectiva de um futuro
gera, principalmente, nos adolescentes a desesperança que na prática os tem
conduzido ao crime e por consequência a morte precoce.
Essa preocupação
deveria ser de cada família, cada educador, cada humanista, principalmente,
cada Governante, em todos os níveis, por ter sido cabalmente constatada através
de estudos em várias e diferentes sociedades que apontam a indiferença com o
destino dos jovens, (principalmente, os de baixa renda), a falta de
oportunidade de acesso desses jovens ao mercado de trabalho e a uma melhor
condição de vida como o descaminho passível de induzi-los a condutas
antissociais e inicia-los no crime.
No Brasil nem precisa
pesquisa para constatar que esse fato vem ocorrendo há décadas com crianças e
jovens brasileiros, situação que venho denunciando sistematicamente e venho
denominando-a de “O Holocausto Brasileiro”.
Parafraseando o que
vem sendo dito insistentemente, pelo o notável jurista Professor Luiz Flávio
Gomes: “...um pais que nos últimos 15 anos investiu mais em punição e prisão do
que em educação (+ presídios –escolas), é um pais severamente enfermo! Devido a
inversão absoluta dos valores: exclusão social em detrimento da“construção cultural”
do cidadão. Menos Estado social e mais Estado policial. Uma aberração que
precisa ser denunciada e combatida (Ver: BRASIL: país que constrói mais presídios que escolas está doente).
O presente artigo é oportuno porque enquanto o Congresso Nacional se prepara para votação de matérias referentes ao menor em confronto com a lei, o país caminha desinformado e indiferente ao futuro desses menores, alimenta uma expectativa unicamente punitiva, invés de exigir das autoridades competentes uma ampla investigação das causas da violência praticada pelo infanto-juvenil e, contra ele, como suporte legal para doravante cuidar adequadamente desse assunto. Não podemos desperdiçar a oportunidade de dar um novo rumo às políticas preventivas e restaurativas utilizadas há décadas pelo Governo e que se mostraram totalmente ineficazes para conduzir à ressocialização e a inclusão social desse menor ( que é o principal objetivo da pena), mas que na prática, ao contrário tem cooperado para aumentar a reincidência deformando ainda mais sua personalidade.
Defender a
sustentação da maioridade penal aos 18 anos, não quer dizer que estamos
coniventes com o menor que pratica crimes, mormente, crimes hediondos, mas daí
pretender resolver uma questão tão complexa, apenas com medidas punitivas é se
deixar levar pela pressão da mídia populista, que tem apenas o escopo
imediatista, simplificado, sem nenhum compromisso com resolução adequada do
problema, portanto, em total menosprezo as leis e garantias individuais, sem
levar em conta as constatações e as recomendações científicas sobre esse “ser”
ainda inacabado em todas as suas potencialidades que é o adolescente, que
apenas na teoria explicitamente a lei protege. Exatamente por isso o
momento é significativo para uma profunda reflexão e adoção imediata de
estratégias de prevenção que me parece ser prioritário e emergencial nas
políticas públicas, além de menos oneroso aos cofres públicos e a própria vida.
Cabe ao Estado,
cumprir seu dever de casa (cumprindo suas funções de tutela do menor com
excelência, o que nunca fez) ao invés de reforçar o discurso da mídia populista
que inundou a sociedade e, não trará nenhum resultado positivo que possa servir
de ponte para a cultura da paz.
Quando o objeto em questão
são criança e adolescentes, portanto o futuro de qualquer nação civilizada,
omitir da população a precariedade dos Educandários Públicos e suas
metodologias ineficazes, mais semelhantes a faculdades do crime em todas as
suas modalidades e cada dia mais distanciada de metodologias que corrobore a
ressocialização, recuperação e a inserção social desses adolescentes à
sociedade, mas que na prática não acontece, estamos caminhando na contra mão do
direito, da justiça social e da liberdade, o que é um grande equivoco, um
paradoxo inadmissível que precisa ser urgentemente reparado e, penso ser esse o
momento.
O ECA carece de
reparos urgentes. Melhor e mais produtivo que reduzir a maioridade penal seria
corrigir uma distorção (dentre outras existentes) que ocorre desde a criação do
ECA: transformando em agravante, majorando a pena sem dó para o delinquente
adulto que utilizar sob qualquer pretexto a cooperação do menor para a prática
de infrações ou crimes. Essa postura, sim, me parece a mais correta e, por
certo terá impacto na diminuição da violência praticada por menores e contra
eles, capitaneada, na maioria das vezes por delinquentes adultos.
Vamos ter que optar
pela verdade e, não mais permitir que continue se propagando aos quatro cantos
do pais essa mentira deslavada de que o menor não é penalizado, não vai preso
e, após cometer crimes graves e atingir a maioridade penal será tudo zerado e
esse menor terá seu histórico limpo. Isso nada mais é que mais um engodo, o
próprio " 171", ( amparada pela corrente dos raivosos) que
leva até hoje menores incautos a colaborar com adultos criminosos profissionais.
Porque ninguém ignora que a passagem de um menor por qualquer Educandário
Público ( Ex- FEBEM) deixará para sempre marcas indeléveis alma ( sentimentos e
emoções) e seu histórico de vida será maculado para sempre. Na prática, qual
seria então a diferença entre a prisão de um delinquente adulto e a imposição
de medida socioeducativa privativa de liberdade aplicada a um menor em
confronto com a lei? Nenhuma!
O ideal seria não
existir crime, muito menos hediondo, mas isso é uma utopia e não uma verdade,
afirmar que existe uma sociedade onde não exista um delito, um crime, mas há
varias sociedades onde essa taxa é diminuta por causa dos investimentos
governamentais adequados que não é o caso do Brasil. Também não ficar
engessados no Direito comparado e obrigatoriamente, importar para o Brasil
medidas que deram certo em outros. O que precisamos é levarmos a sério o
imperioso dever democrático de respeitar a dignidade humana e levar em
consideração as particularidades do povo brasileiro, as especificidades de cada
um dos nossos Estados, e fazer o que tem que ser feito: impedir qualquer tipo
de degradação à criança e ao adolescente doa a quem doer.
É que cuidar de
pessoa, restaurar pessoa, tem uma fórmula que é incompatível com as políticas
ideológicas e partidárias reinantes no país. A Fórmula dos cincos Ds, ou seja:
Difícil, Demorado, Dispendioso, Doído, mas, com Dignidade é perfeitamente
possível restaurar, mormente, crianças e adolescentes, mas é uma verdade que
não interessa aos políticos brasileiros.
*Conceição Cinti. Advogada
e educadora. Especialista em Tratamento de Dependentes em Substâncias
Psicoativas e Delinquência Juvenil, com experiência de mais de três décadas.
Colunista de alguns renomados sites e pode ser encontrada nowww.educacaorestaurativa.blogspot.com.br visite esse
espaço!
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