sábado, 3 de março de 2012

Problema De Drogas Migra Para Outras Áreas Após Operação Na Cracolândia | Jornal Nacional


A Mudança Na Região Não Significou Uma Solução. 
Basta Virar Uma Esquina Para Encontrar Um Grupo De Usuários E Registrar Mais Cenas De Violência.


*Conceição Cinti 

O vídeo da reportagem que foi apresentada pelo Jornal Nacional, sobre atual situação da cracolândia nº 01 de São Paulo, após a última invasão pela polícia militar não traz nenhuma surpresa. A maneira desastrosa como foi desativada, além do sofrimento desnecessário causado aos combalidos viciados, não trouxe nenhuma contribuição para solução do problema e propiciou a dispersão dos adictos ao invés do acolhimento, dificultando ainda mais a imprescindível relação de confiança que é a ponte para adesão ao tratamento. 

Todos concordam com a necessidade da Revitalização do Centro de São Paulo. O que não é aceitável é usar subterfúgio para não priorizar as necessidades dos seres humanos. A especulação imobiliária é o pano de fundo indizível e a evacuação da área é o primeiro foco do Governo. Quando se deixa de adequar espaços físicos para acolher pessoas doentes, essa inversão de valores é no mínimo uma atitude equivocada, que denota precipitação, desmazelo e imperícia no trato da coisa pública: a saúde das pessoas carentes. 
Algumas questões precisam não apenas ser priorizadas, mas, sobretudo implantadas por especialistas no assunto, no caso em tela adictos carecendo de tratamento, portanto, nada a ver com exposição e truculência policial e tudo a ver com dignidade, prudência e envolvimento de peritos no assunto. 

Salta aos olhos não apenas a imprescindível falta de planejamento para execução da ação, que por si só já demonstrar o desrespeito com que são tratadas pessoas pobres nesse país. 

Houve até ingênuos que festejou antecipadamente, dando como assuntos resolvidos, numa demonstração petulante, própria dos que creem apenas no poder da força. Como se escorraçar, esvaziar varrer para debaixo do tapete fosse sinônimo de solução. 

Claro que os adictos moradores de rua, despejados daquele logradouro público iriam migrar para outras regiões. Igualmente tratada com a mesma leviana aconteceu à desativação do Carandiru, sem a observação de nenhum critério de planejamento e estratégia, e que também não resolveu a questão da violência na Capital e contaminou perversamente o interior do Estado, exemplo, infelizmente seguido por muitos Estados da Federação. 

A construção de presídios no interior contribuiu muito para facilitar o esparramo das drogas e agravar ainda mais a situação. As pequenas cidades foram as mais penalizadas, porque os hábitos das pessoas, o nível de perspicácia, e o material humano responsável pela repressão numa cidade de pequeno porte, por si só são facilitadores das organizações criminosas. 

E foi isso que aconteceu com as pequenas cidades. Houve uma mudança repentina no comportamento das pessoas causado pelo contato com os forasteiros. Um aumento não só no número de dependentes como também da violência, devido à presença rotativa mais frequente dos comparsas dos presos nos municípios e nas imediações das cidades onde ficam os presídios. Por essa razão também é fácil constar que esse fato propiciou uma disponibilidade maior de armas a disposição dos usuários.

O dependente de crack é alguém grandemente abalado psicologicamente, e a necessidade de arcar com gastos necessários para manutenção do vício são dois fatores que forçam o usuário a se associar mais fácil e rapidamente com o crime, já que a maioria dos usuários de crack são pessoas pobres, e desempregadas. A posição equivocada utilizada nos dois episódios exige mudança urgente por parte do Poder Público, que não pode se ausentar ileso da vida das pessoas que carecem sua tutela.

*Conceição Cinti, advogada e especialista em tratamento de jovens drogados. Visite o blog de Conceição Cinti:
http://educacaorestaurativa.blogspot.com/




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