*Conceição Cinti
Hoje vamos abordar um dos assuntos mais polêmicos, e, precisamos contar com a participação de todos; favoráveis ou não, sem os quais não alcançaremos o resultado que a sociedade necessita, ficando impossível encontrarmos uma saída apropriada para verdadeira “guerra civil” não declarada, que ao longo de décadas acumula apenas rancores e mortes, muitas mortes.
É a questão do menor em conflito com a lei pejorativamente
denominado de “menor infrator” ou “menor delinquente”.
Sabem os operadores na área de Restauração de Vidas, que não dá
para falar em delinquência, sem falarmos em Dependência em Substancias
Psicoativas, porque os menores infratores (em sua maioria), de alguma forma
estão conectados ao mundo das drogas.
E também não dá para falar sobre dependência sem falarmos sobre
delinquência, porque a maioria dos menores dependentes pobres, mais cedo ou
mais tarde chegará à delinquência.
Entretanto, quando se trata de menor em conflito com a lei, há uma
verdadeira aversão ao assunto, que não é apenas um assunto, mas um fato
sinistro que vem acontecendo há décadas sem a intervenção apropriada do poder
público, e se constitui, no que eu denomino de “O holocausto brasileiro”,
vitimando nossas crianças, adolescentes e jovens.
É preciso não apenas denunciar, mas é preciso impedir o morticínio
juvenil de avançar.
A aversão em torno do menor delinquente é motivada, em grande
parte, pela exploração midiática populista que, ao invés de promover as
informações esclarecedoras sobre a real situação em que vive o menor pobre
nesse país corrobora apenas para fomentar o sentimento de vingança, que gera,
tão somente, mais tragédias.
Precisamos deixar a aversão e o mito que cerca esse tema e
partirmos para o enfrentamento maduro, na busca por um melhor equilíbrio nas
relações sociais de uma forma geral, e garantir a ressocialização desse menor,
que, lamentavelmente, só existe na lei.
Essa luta, em minha opinião, se inicia com um investimento maciço
na educação, de alcance às famílias, mais especificamente, às relações entre
pais e filhos, educadores e seus pupilos, entre pais e educadores. Promover uma
mudança na cultura de valores de competição e retribuição para valores da
cooperação da solidariedade e da restauração das relações humanas através do
perdão e da mediação é o caminho certo para um mundo civilizado e um patamar
aceitável de mortes.
Quando as pessoas são educadas para os valores, para que respondam
aos anseios de respeito mútuo e dignidade humana, há nesse fato uma maior
probabilidade (certeza) de respostas mais concretas para as grandes tragédias,
que são inerentes à sociedade egoísta e competitiva.
Uma maior preocupação com a formação do “ser” há de preceder a
formação do “ter” e toda a essa parafernália aplicada precocemente pela
sociedade capitalista aos nos jovens. Essa inversão de valores contribuirá cada
vez mais para acumularmos apenas rancores e mortes.
A proposta da Educação Restaurativa é que a “educação” seja o
instrumento dessas mudanças, um caminho onde haja espaço para a reflexão das
nossas necessidades enquanto pessoas, sem excluir as necessidades do outro. Que
a preocupação como a formação de uma sociedade mais equitativa esteja no bojo
dessas reflexões, como o caminho novo, quiçá a única possibilidade verdadeira
de transformação de um novo conceito de vida, liberdade e justiça a ser
construída pelas experiências diárias a respeito e de respeito por si mesmo,
pelo outro e pelo ambiente em que vivemos. Essa nova forma de pensar o mundo
faz toda a diferença e precisa estar embutida na célula familiar, educacional e
civil com o imprescindível apoio do poder público.
*Conceição Cinti. Advogada, educadora. Especialista em Tratamento
de Dependência de Substâncias Psicoativas, com experiência de mais de três
décadas.
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