sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Religião é imprescindível no tratamento de dependentes químicos



Por Conceição Cinti

Após denúncia feita pelo senador Magno Malta PR/ES, em sessão plenária realizada em 20 de agosto de 2014, no Senado Federal, a qual versa sobre a resolução do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) - que proíbe as comunidades terapêuticas incluir religião no tratamento de recuperação de dependentes químicos, me senti na obrigação de trazer aqui o discurso de uma profissional que atua há décadas com essa parcela da população brasileira.
Ao meu ver, esse documento representa o reforço da falta de vontade política (Governo Federal) e da Comunidade Cientifica que insistem em desrespeitar a Comunidade Terapêutica. Em vez de somar para otimizar o resultado do enfrentamento que um país epidêmico precisa implantar, esses representantes seguem na contramão de tratamentos completos e realmente efetivos.
Por isso, começo com as propostas absurdas contidas na resolução federal que será editada em setembro pela presidente Dilma, e que tem como um dos autores Vitore Maximiliano, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. A mais polêmica delas diz que “clínicas de dependentes químicos, comunidades terapêuticas não poderão mais falar sobre religião”. Ainda de acordo com o documento, o tratamento feito nesse tipo de comunidade é questionável, pois combina ciência médica com dogmas religiosos e, na verdade, deveria ser laico.
Em seu pronunciamento, o senador Magno Malta diz que é preciso vetar esse documento o mais rápido possível, “cortar o mal pela raiz antes que ele cresça”. O político, que há 35 anos investe em trabalhos que visam tirar os dependentes de substâncias psicoativa das ruas, sobretudo por meio do ‘Projeto Vem Viver’, reforçou que “são os religiosos que estão na ponta dessas entidades que atuam na área”. Ainda segundo ele, o dependente químico não precisa somente de uma estrutura material e cientifica para se recuperar, ele carece de amor, afeto e de alguém que esteja disposto a colocar a vida a serviço dele.       
Como conhecedora do assunto, concordo com as bem postas palavras de Malta e reafirmo que não há comprimido chá, xarope, injeção, pastilha, gotas, supositório, adesivo, fisioterapia, acupuntura, procedimento psicológico, psiquiátrico que por si só traga a cura ao dependente de substâncias psicoativa. Em outras palavras, a ciência ainda não tem resposta para esse mal, mas as pesquisas continuam incessantes e qualquer novidade será bem-vinda.
Enquanto isso, na prática, os médicos têm usado os recursos disponíveis da psiquiatria, psicologia e farmacologia para auxiliar esse novo tipo de paciente. A velha camisa de força (de pano) foi substituída pela camisa de força química, que imobiliza o portador de dependência severa evitando sua morte por overdose ou debilitações múltiplas, possibilitando seu atendimento emergencial.
O problema é como cuidar desse paciente, após sobreviver à emergência? Os atendimentos a esse público-alvo são feitos através das clínicas particulares, cujos pacientes são pessoas de maior poder aquisitivo, e nas Comunidades Terapêuticas, e mais recentemente pelo o SUS (mais especificamente através dos CAPS), que atendem pessoas de baixa renda. Porém, é do conhecimento público que o tratamento para esse tipo de dependente é um quesito que ainda desafia a área médica e tem provocado alguns equívocos.
Comunidade Científica x Comunidade Terapêutica
A Comunidade Cientifica sempre soube da ausência do Estado na assistência ao dependente de baixa renda, bem como da existência do atendimento exitoso aos dependentes, sobretudo por instituições filantrópicas e entidades religiosas, desde a década de 60. Também é sabido que a primeira Comunidade Terapêutica voltada exclusivamente para o atendimento e restauração ao adicto foi criada em 1967, na cidade de Goiânia, pela missionária Ana Maria Brasil. Sendo assim, é fato que a Comunidade Terapêutica Cristã foi pioneira nesse complexo atendimento humano.
Retomando o que eu já disse em entrevista concedida a renomado Portal Atualidades do Direito, sempre houve um desconforto por parte da Comunidade Cientifica em relação a esse tipo de atendimento/acolhimento, em sua maioria realizados com excelência pelas Comunidades Terapêuticas, para dependentes químicos de baixa renda. Aliás, esse público nunca foi o foco da Comunidade Cientifica.
Nota-se, então, que Comunidade Cientifica e Comunidade Terapêutica sempre caminharam separadamente e têm posições antagônicas no trato com o dependente de SPA. É importante clarificar que estão totalmente equivocados os que tentam manter o distanciamento entre esses dois preciosos seguimentos. Essa separação em nada soma para o bem estar da sociedade. Pelo contrario, é nociva aos desfavorecidos acometidos pelas drogas e ainda reforça o efeito bumerangue.
O consistente e persistente atendimento a esse tipo de paciente, que voluntariamente foi iniciado pelo Terceiro Setor (embora alguns tentem sabotar a qualquer custo), consiste, primeiramente, num singelo e sincero investimento de amor na vida do próximo. Graças a esse singelo atendimento de amor é que o Brasil evoluiu nessa área e que hoje podemos dizer que o Brasil tem ‘Know How’ em tratamento de dependente em SPA, sobretudo devido à atuação das Comunidades Terapêuticas (evangélicas e católicas) e das diversas outras religiões e grupos que serão sempre bem-vindos e imprescindíveis para somar e fazer a diferença.
Sabemos que o problema é complexo e delicadíssimo, mas o Brasil precisa urgentemente encarar essa realidade. Costumo dizer que Restaurar vidas é difícil, demorado, dispendioso e dolorido, mas é perfeitamente possível. Porém, dá muito trabalho e não arrecada votos. Pense nisso!
 Todo dia é dia de lutar pela vida e contra a violência gerada pelas drogas!
*Conceição Cinti. Advogada e Educadora. Precursora da Educação Restaurativa. Especialista em Tratamento de Dependentes de Substancias Psicoativa, com experiência de mais de três décadas. Colunista de sites importantes e palestrante. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário