domingo, 21 de setembro de 2014

Dependente químico de baixa renda deve ter direito a tratamento com início, meio e fim

*Conceição Cinti

Trabalho das equipes jamais deve ser pautado pelo que é mais adequado ou menos oneroso aos cofres públicos, mas na recuperação do paciente.






Como expus em meu artigo anterior, o comprometimento pessoal das Comunidades Terapêuticas (CTs) e suas equipes com seus pacientes faz toda a diferença, fato que pode ser confirmado pela média de mais de 70% de vidas restauradas. Contra fato não há argumentos e ponto.
Ora, se o Brasil tem esse preciso Know-How, por que não somar forças para enfrentar essa epidemia? Porque há total ausência de vontade política e, quando há, ela está comprometida com pessoas que por algum motivo conseguem impedir que o gestor Federal cumpra as propostas feitas para área.
Outro fato de extrema importância na recuperação/ressocialização de um dependente de drogas é a garantia de sequência no tratamento, pois este deve ter início, meio e fim. Sendo assim, o trabalho das equipes jamais deve ser pautado pelo que é mais adequado ou menos oneroso aos cofres públicos, mas na recuperação do paciente.
É através das fases do programa que o recuperando vai aprendendo o passo a passo para se autodisciplinar e atingir o autocontrole sobre suas emoções, sentimentos e pensamentos. Essa disciplina o conduzirá à libertação da dependência. É isso, salvo qualquer engano de minha parte, que ainda não parece bem definido por parte do Governo.
O certo é que, até o presente momento, não temos informações transparentes sobre como acontece na prática a sequência do tratamento oferecido pelo Poder Público ao dependente químico de baixa renda. Esse fato merece uma profunda e urgente reflexão, principalmente quando o paciente é dependente de crack, pois se trata de dependência severa. Portanto, ao colocar em prática cada uma das políticas públicas elaboradas, é preciso ter mais consciência sobre se o trabalho desempenhado corresponde ao investimento público que foi feito.
Enquanto não é possível obter essa total transparência, sigamos sempre atentos e com olhar crítico e construtivo acerca de cada uma das políticas públicas destinadas à nossa sociedade e com a certeza de que precisamos deixar de ser o país do imediatismo. Quanto à possibilidade de recomeçar, acredito que só será possível se conseguirmos contemplar a integralidade do mundo das drogas para que possamos compreender e decidir adequadamente sobre cada medida adotada como parte do todo.
A luta contra as drogas é um dever de todos os cidadãos, porém, a severa discriminação imposta pela Sociedade Civil ao dependente químico, inclusive à criança e ao adolescente, só terá fim com intervenções planejadas do Estado, que demonstrem a sensibilização como melhor saída, gerando um espírito de solidariedade nacional.
O desafio é mostrar os benefícios, que por certo virão quando a postura destrutiva da discriminação e do uso desnecessário e exclusivo da repressão com essas pessoas visivelmente enfermas der lugar a uma postura humilde, que verdadeiramente promova a recuperação e a reinserção.
É nesse contexto que a mídia assume um papel fundamental, enquanto um poderoso instrumento democrático, e ‘abre alas’ para levar a sociedade e os Governos a refletirem sobre suas responsabilidades. E porque não usar a sua influência na sociedade para transmitir que o acolhimento com amor é o caminho para proteger e tratar nossas crianças e jovens e que a artilharia pesada deve ser empregada para o devido enfrentamento ao tráfico de drogas.
Nessa guerra, duas frentes precisam ser consideradas: enfermos a serem assistidos e tratados até serem restaurados e criminosos que precisam ser contidos e mantidos presos incomunicáveis. O fato é que as mudanças culturais e sociais se processam muito lentamente e, enquanto isso, a vida e os direitos dos nossos meninos e meninas precisam ser urgentemente protegidos.
Nesse sentido, o Estado detém um valioso instrumento que nos permitirá transpor esse fosso com mais rapidez, conforme exige a situação: a negociação! Esse sim é o instrumento apropriado. A luta no enfrentamento às drogas é dever de todos.
Precisamos não apenas refletir sobre essa epidemia que estamos vivendo no Brasil, mas nos engajarmos nessa luta, por uma sociedade melhor para nossas crianças, adolescente e jovem, que tem sido as maiores vitimam de homicídios na guerra gerada pelas drogas.
*Conceição Cinti. Advogada e educadora. Precursora da Educação Restaurativa,com experiência de mais de três décadas em Tratamento de Dependentes de Substâncias Psicoativa, e ou Delenquencia Juvenil. Palestrante. Articulista de alguns renomados Sites, autora do blog http://educacaorestaurativa.blogspot.com.br/



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