*Conceição Cinti
Trabalho das equipes jamais deve ser
pautado pelo que é mais adequado ou menos oneroso aos cofres públicos, mas na
recuperação do paciente.
Como expus
em meu artigo anterior, o comprometimento pessoal das Comunidades Terapêuticas
(CTs) e suas equipes com seus pacientes faz toda a diferença, fato que pode ser
confirmado pela média de mais de 70% de vidas restauradas. Contra fato não há
argumentos e ponto.
Ora, se o Brasil tem esse preciso Know-How, por que não somar
forças para enfrentar essa epidemia? Porque há total ausência de vontade
política e, quando há, ela está comprometida com pessoas que por algum motivo
conseguem impedir que o gestor Federal cumpra as propostas feitas para área.
Outro fato de extrema importância na recuperação/ressocialização
de um dependente de drogas é a garantia de sequência no tratamento, pois este
deve ter início, meio e fim. Sendo assim, o trabalho das equipes jamais deve
ser pautado pelo que é mais adequado ou menos oneroso aos cofres públicos, mas
na recuperação do paciente.
É através das fases do programa que o recuperando vai aprendendo o
passo a passo para se autodisciplinar e atingir o autocontrole sobre suas
emoções, sentimentos e pensamentos. Essa disciplina o conduzirá à libertação da
dependência. É isso, salvo qualquer engano de minha parte, que ainda não parece
bem definido por parte do Governo.
O certo é que, até o presente momento, não temos informações
transparentes sobre como acontece na prática a sequência do tratamento
oferecido pelo Poder Público ao dependente químico de baixa renda. Esse fato
merece uma profunda e urgente reflexão, principalmente quando o paciente é
dependente de crack, pois se trata de dependência severa. Portanto, ao colocar
em prática cada uma das políticas públicas elaboradas, é preciso ter mais
consciência sobre se o trabalho desempenhado corresponde ao investimento
público que foi feito.
Enquanto não é possível obter essa total transparência, sigamos
sempre atentos e com olhar crítico e construtivo acerca de cada uma das
políticas públicas destinadas à nossa sociedade e com a certeza de que
precisamos deixar de ser o país do imediatismo. Quanto à possibilidade de
recomeçar, acredito que só será possível se conseguirmos contemplar a
integralidade do mundo das drogas para que possamos compreender e decidir
adequadamente sobre cada medida adotada como parte do todo.
A luta contra as drogas é um dever de todos os cidadãos, porém, a
severa discriminação imposta pela Sociedade Civil ao dependente químico,
inclusive à criança e ao adolescente, só terá fim com intervenções planejadas
do Estado, que demonstrem a sensibilização como melhor saída, gerando um
espírito de solidariedade nacional.
O desafio é mostrar os benefícios, que por certo virão quando a
postura destrutiva da discriminação e do uso desnecessário e exclusivo da
repressão com essas pessoas visivelmente enfermas der lugar a uma postura
humilde, que verdadeiramente promova a recuperação e a reinserção.
É nesse contexto que a mídia assume um papel fundamental, enquanto
um poderoso instrumento democrático, e ‘abre alas’ para levar a sociedade e os
Governos a refletirem sobre suas responsabilidades. E porque não usar a sua
influência na sociedade para transmitir que o acolhimento com amor é o caminho
para proteger e tratar nossas crianças e jovens e que a artilharia pesada deve
ser empregada para o devido enfrentamento ao tráfico de drogas.
Nessa guerra, duas frentes precisam ser consideradas: enfermos a
serem assistidos e tratados até serem restaurados e criminosos que precisam ser
contidos e mantidos presos incomunicáveis. O fato é que as mudanças culturais e
sociais se processam muito lentamente e, enquanto isso, a vida e os direitos
dos nossos meninos e meninas precisam ser urgentemente protegidos.
Nesse sentido, o Estado detém um valioso instrumento que nos
permitirá transpor esse fosso com mais rapidez, conforme exige a situação: a
negociação! Esse sim é o instrumento apropriado. A luta no enfrentamento às
drogas é dever de todos.
Precisamos
não apenas refletir sobre essa epidemia que estamos vivendo no Brasil, mas nos
engajarmos nessa luta, por uma sociedade melhor para nossas crianças,
adolescente e jovem, que tem sido as maiores vitimam de homicídios na guerra
gerada pelas drogas.
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