quinta-feira, 23 de maio de 2019

A complexidade da dependência do crack


*Conceição Cinti
A maioria dos dependentes de crack são pobres  e  desempregados, sem dinheiro, e obrigado a manter as despesas com o uso continuado da droga se torna totalmente vulnerável. Uma pessoa em quem não se pode confiar porque perde por completo sua capacidade crítica e por essa razão não tem condições de avaliar as consequências de suas escolhas porque todo seu entendimento estar completo e exclusivamente comprometido em continuar a se drogar até a exaustão e para isso fará qualquer coisa.

A obsessão pelo consumo cada vez maior do crack é uma das consequências mais grave gerada pelo crack. Esse tipo de dependente é subserviente a droga. Não teme pela própria vida, por essa razão a vida do próximo não será impedimento para que ele atinja seu único objetivo: fumar até se exaurir, mesmo que para isso precise ferir roubar, ou até mesmo matar alguém. Contudo, mesmo nessa alucinada busca pela droga, dificilmente, esse tipo de dependente fara isto por premeditação, mas em consequência do seu comprometimento com a droga.
Dentre as demais drogas, o crack é a que tem uma relação mais forte com os crimes contra o patrimônio, onde o usuário em geral se inicia no furto simples (dentro da própria família), mas de repente pode enveredar até pelos crimes contra a vida.  A transposição de um tipo de delito para outro mais severo é uma decorrência do aumento do  consumo, e da influência da turma a qual se agregou ou foi escolhido.
A dependência gerada pelo crack é a mais austera e brutal, desagrega e traumatiza os familiares como nenhuma outra droga. Sendo que a exclusão social desse tipo de dependente acontecesse como num passo de mágica. Alias tudo relacionado ao crack ocorre velozmente. Desde os efeitos provocados pela inalação da fumaça que faz o dependente atingir o ápice em aproximadamente 50 segundos, ao ilusório êxtase que pode não ultrapassar 5 minutos, seguido pela temida “noia” (que provoca no dependente um medo absurdo faz com que ele ouça vozes e tenha visões de perseguições). Mesmo sendo esse um momento de superação muito sofrido para o dependente, e muito perigoso para quem se aproxima dele, esse acontecimento doloroso o conduz novamente a compulsão. (Geralmente é nesse momento que ocorrem as tragédias). Nesse círculo vicioso repetitivo poderá varar noites consumindo a droga até o esgotamento físico.
Em média uma dependência severa pode levar o dependente a consumir de 30 a 40 pedras noite. Tive oportunidade de acompanhar alguns casos de mais de 120 pedras noite. O custo do crack é mais barato que as demais drogas, porem seu  efeito curtíssimo obriga o dependente consumir mais, portanto termina gastando mais.
O crack por si só é excludente, isola o dependente. Não é uma droga compartilhada em grupo ou, em clima festivo. Mesmo que o usuário se junte a alguém para ir à “boca de fumo” para pegar a droga(faz isso por medo), ao depois, ainda que divida o mesmo espaço físico, não se sente confortável com a presença de ninguém que não seja a própria droga.
Assisti a inúmeras pessoas que antes de se tornarem dependentes do crack eram pessoas cuidadosas com a aparência, higiênicas, estudantes dedicados, profissionais competentes e éticos, que rapidamente se tornaram pessoas repulsivas. A própria droga isola o dependente e o coloca num absurdo processo de desumanização o que gera o rompimento dos laços familiares, profissionais, afetivos e dos princípios morais. A violência gerada pelo uso do crack é diferente da gerada pelas demais drogas, é uma violência sinistra.
Seja sempre cuidadoso com familiares e amigos, a droga sempre surpreende, nunca avisa.
Ajude na Prevenção da Dependência de Substâncias Psicoativas. Apoie as denominadas Comunidades Terapêuticas (chamadas popularmente: Casas de Recuperação de Vidas) elas são preciosas  e têm sido um suporte exitoso  para a  população de baixa renda.
*Conceição Cinti.  Advogada e educadora. Especialista em Tratamento de Dependentes de Substancias Psicoativas e Delinquência Juvenil, com experiência de mais de três décadas.



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