* Conceição Cinti
O mundo do narcotráfico evolui velozmente. E investe em serviço de inteligência, tecnologia, logística e tudo que há de mais moderno para garantir êxito financeiro e evitar punição. Esse Mercado Negro, que é um dos maiores e mais rentáveis do mundo, está fabricando até submarino para o transporte de drogas, armas e o que se fizer necessário para sua manutenção.
Um submarino foi descoberto após denúncias anônimas recebidas pela Delegacia Geral, (e reforçadas pelo serviço telefônico Disque-Denúncia) de que uma embarcação estava sendo construída em um braço de rio dentro de uma ilha no litoral de Vigia, região nordeste do Pará. A embarcação seria usada no escoamento de grandes quantidades de drogas para fora do país, possivelmente, com destino aos Estados Unidos e à Europa.
No total, mais de 15 pessoas podem ter participado da construção do submarino. Segundo as investigações, os responsáveis pela construção se instalaram na área desde setembro e realizavam uma vigilância ostensiva para não permitir a entrada de pessoas. Tanques de combustível usados pelo grupo foram encontrados nas proximidades, além de caixas de produtos eletrônicos com inscrições em espanhol. E estaria em uma das ilhas do rio Guajará Mirim. Pelo trajeto das atividades percebe-se que não existe mais espaços para amadores também no crime organizado.
Diante da informação, policiais civis da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) e da Delegacia de Polícia Fluvial (DPFlu) foram deslocados à região para apurar as denúncias, sob coordenação dos delegados Hennison Jacob, da DRE, e Arthur Braga, da DPFlu.
É o crime organizado em franca ascensão e aperfeiçoamento no Brasil. O submarino apreendido, estaria em uma das ilhas do rio Guajará
Segundo o delegado João Bosco Rodrigues Junior, diretor de Polícia Especializada, o submarino estava praticamente pronto, (quando foi apreendido em uma das ilhas do rio Guajará) contando com sonar e sistema de refrigeração interno, restando apenas a instalação de alguns equipamentos eletrônicos.
A embarcação tem cerca de 17 metros de comprimento, três metros de diâmetro e cerca de quatro metros de altura, com capacidade de transportar uma carga de até 30 toneladas e transportar, pelo menos, 30 pessoas.
Em meados de 2012 o Jornal “O Estado de São Paulo” trouxe à tona registro do uso internacional de submarino no transporte de drogas. Entretanto, tem-se a notícia de que essa modalidade de transporte de entorpecentes ocorre desde o ano de 2005, contudo sem grandes alardes. Tem se noticiais de algumas apreensões de cargas através dessa modalidade de transportes, mas convém destacar que isso quase não veio ao conhecimento da grande massa que acompanha os telejornais, o que nos faz refletir, por qual motivo.
Ainda segundo a mesma fonte um terço das drogas enviadas pelos países da América do Sul e da África para os Estados Unidos e parte da Europa, já estariam sendo transportados com o uso de submarinos. Entre nós temos visto também em outras modalidades de crimes, o uso de tecnologia mais complexa e mão de obra especializada.
O Departamento de Interior dos Estados Unidos estima que mais de 45% do tráfico de drogas da Colômbia e da América do Sul, são destinados aos EUA por esse meio de navio.
Veja o cálculo simples que segue abaixo. Assim sendo, fica fácil admitir porque essa modalidade de transporte será cada vez mais preferida. Segundo especialistas uma carga como essa, (de 30 toneladas) tem um valor aproximado de US$ 400 milhões, enquanto que o custo de um submarino é de US$ 2 milhões. Simples. Dá muito lucro, e é mais difícil ser interceptado, e consequentemente sofrer a punição legal.
Ante a narrativa nos tópicos acima registrados, é importante asseverar que este tipo de transporte oferece uma opção muito lucrativa e segura para submundo do tráfico, uma vez que a fiscalização é mais difícil, o que acarreta em um número menor de apreensões. Note-se, que não há como haver uma fiscalização ostensiva desse transporte, pois, muitos governos ainda são desprovidos de material tecnológico, capaz de identificar e rastrear a carga transportada, não bastasse isso, muitos ainda carecem da falta de material humano, como é o caso do Brasil.
Essa notícia, além de causar grande impacto, nos mostra a seriedade com que os narcotraficantes levam seus “empreendimentos” à frente, mesmo que considerados ilícitos. Enquanto que o Poder Público Brasileiro sem nenhum comprometimento com as pessoas de baixa renda os abandona deixando-os à mercê do crime organizado, principalmente crianças, adolescentes e jovens do sexo masculino pobres, pretos, periféricos e analfabetos morrendo as tulhas.
A primeira pergunta que surge é se nosso país teria estrutura suficiente para coibir essa prática? Já reparou que no Brasil tudo de bom só existe mesmo na teoria. Na teoria a resposta é sim, temos! A Marinha Brasileira detém tecnologia de ponta e o Brasil está dentre os três únicos países do mundo que tem domínio sobre a construção até de submarinos nucleares. Mas, o contingente naval e humano e seu arsenal não são compatíveis com as necessidades de rastreamento e fiscalização de nossos mares, rios. A nossa Marinha tem excelência em muitas áreas, mas não tem contingente humano suficiente para tanta água. Tem não!
Também é notório que o Poder Paralelo tem se sobreposto ao Poder Público, pois há um grande investimento em estratégias, logística e armamento, e material humano. É cada vez mais comum termos notícias que o armamento que os traficantes tem nos morros, por inúmeras vezes se mostram superiores aos usados pelas nossas Polícias e Exército.
Um caminho verdadeiramente sólido seria a unificação da Sociedade Civil e Poder Público num pacto de Responsabilidade Compartilhada, onde os governos federais, estaduais e municipais e o Povo concentrem-se adequadamente na resolução desse problema que tem dois Fronts: saúde pública e privada e segurançapública/repressão pesada e intermitente.
Ou seja, políticas preventivas atreladas a planos efetivos, de combate/ação. A dosagem certa para o enfrentamento deste enigma.
* Conceição Cinti. Advogada. Educadora. Especialista em Tratamento de Dependentes em Substancia Psicoativa e Delinquência, com experiência de mais de três décadas. Palestrante e Colunista.
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