LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e coeditor do portal
atualidadesdodireito.com.br. Estou no
luizflaviogomes@atualidadesdodireito.com.br*
Na presidência da República o serviço de inteligência não
antecipou absolutamente nada sobre as manifestações populares de junho de 2013.
O serviço de inteligência não funcionou (O Estado de S. Paulo de 23.06.13, p.
A4). A Revolução J-13 (junho de 2013) tampouco foi prevista pelos meios de comunicação,
partidos, instituições governamentais ou privadas. Ninguém imaginou a revolta
popular mais contundente e eletrizante, depois da redemocratização (1985). Por
quê?
Porque os órgãos de pesquisa encarregados de fazer
flutuar o modelo econômico-financeiro injusto e desigual, que tomou conta do
mundo inteiro, mostravam, à primeira vista, um cenário favorável para os países
emergentes. Pesquisa divulgada no dia 23.05.13, pela Pew Researcher Center, que
é um instituto de pesquisa americano especializado em temas políticos,
econômicos e sociais, apontava o seguinte: a maioria dos países centrais (com
algo grau de desenvolvimento) estava insatisfeita com a sua economia; já os
países emergentes se mostravam satisfeitos com os rumos que as suas economias
vinham tomando.
Foram aplicados questionários em 39 países, separados por
três diferentes categorias – economias avançadas, mercados emergentes e países
em desenvolvimento econômico, baseado nos grupos de renda do Banco Mundial,
tipo de economia e classificação de especialistas.
Em maio de 2013 a pesquisa dizia que, em média, 53% dos
países com mercados emergentes diziam que suas economias iam bem, em comparação
com 33% dos países pouco desenvolvidos e 24% de países com economia avançada.
Estão particularmente negativas (as economias) em países Europeus como a França
(9% de satisfação positiva), Espanha (4%), Itália (3%) e Grécia (1%).
Participantes em mercados emergentes como China (88%) e Malásia (85%) disseram
que a economia vai especialmente bem. No Brasil, 59% dos participantes da
pesquisa se disseram satisfeitos com o país em termos econômicos.
Quando perguntados como eles acreditam que a economia
estaria daqui a 12 meses, 79% disseram acreditar que a economia iria melhora,
15% acreditavam que permaneceria igual e outros 6% julgaram que estaria pior.
China chegou a 80% de otimismo e Malásia 64%. A maioria dos países europeus não
esteve tão otimista. Nos EUA, 33% dos entrevistados disseram acreditar numa
piora da economia, na Espanha chegou a 47%, na França 61% e Grécia 64%.
Apesar de se mostrarem satisfeitos com as possibilidades
de melhora da economia, a maioria dos países se dizia insatisfeita com os rumos
que o país vinha tomando. Entre os participantes da pesquisa no Brasil, 55%
disseram não estar satisfeitos com a direção que o país vinha mostrando. Dos
países de mercado emergente, China e Malásia foram os países que mais
demonstraram ter boa perspectiva sobre o futuro do país, com mais de 80% dos
entrevistados satisfeitos. Já Grécia, Itália e Espanha foram os mais
desacreditados por 2%, 3% e 5% da população insatisfeita, respectivamente.
Seguindo o mesmo passo, a maioria dos países acredita que
a economia está atualmente ruim. Em metade dos países de mercado emergente, ao
contrário, a população acredita que a economia está boa, apresentando em média
70%. No Brasil, esse índice chegou a 59% de satisfação, enquanto China e
Malásia apresentaram cerca de 80% e a Argentina 39% de satisfação. Países da
Europa como Grécia, Itália e Espanha apontaram, em média, 97% de insatisfação.
O que faltou em relação ao Brasil? Perceber que os
brasileiros se mostravam satisfeitos com a economia (59% em maio de 2013), mas
não escondiam preocupações sérias: 55% disseram não estar satisfeitos com a
direção que o país vinha mostrando. De outro lado (como informou o Valor
Econômico):
Principal problema - Ao apontar o principal problema que
o governo deve enfrentar, 46% dos brasileiros ouvidos na pesquisa apontaram a
falta de oportunidades de emprego, ainda que a taxa de desocupação esteja hoje
nas mínimas históricas. É uma fatia bem superior aos 24% que pedem mais atenção
aos preços em alta, mesmo num cenário em que a inflação segue perto do teto da
meta, de 6,5%.
Desigualdade - Apesar da redução da desigualdade de renda
apontada por indicadores socioeconômicos nos últimos anos, 75% dos
entrevistados no Brasil dizem que esse ainda é um grande problema, com 50%
dizendo que a distância entre ricos e pobres tem aumentado.
É essa injustiça brutal e secular relacionada com a desigualdade
(Casa Grande e Senzala) que foi parar nas ruas de todo país. Ocorre que essa
injustiça, como vem de 1.500, é ignorada por todo mundo dominante. Ela foi
naturalizada (internalizada) no nosso processo de socialização. Mas o ser
humano não suporta a injustiça eternamente. Um dia tinha que se rebelar. E se
rebelou!
*Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e
pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
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