segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sem os meios de comunicação é mais difícil vencer as drogas


*Conceição Cinti

Mídia, opinião pública, comportamento de uso de drogas e políticas públicas interligam-se em uma relação muito complexa e é nesse complexo cenário das drogas na mídia que a opinião pública é construída, consolidando conceitos e crenças da população. Não obstante a relevância dos meios de comunicação como um potencial instrumento auxiliar nas políticas públicas, necessitamos que mais esforços sejam empregados para melhor compreensão dessa questão pela sociedade.
Temos plena consciência de que o trabalho dos meios de comunicação com outros temas de saúde foram (e são) de fundamental importância para o sucesso das campanhas preventivas e ajudaram a população a superar crenças e priorizar a saúde, como, por exemplo, no caso AIDS, e outras endemias já superadas ou pelo menos equilibradas por meio do auxilio dos meios de comunicação.
No entanto, quando se trata do uso indevido de drogas, os recursos da mídia vêm sendo pouco explorados como instrumento de prevenção. A questão das drogas é sem dúvida mais plural e complexa que a questão da sexualidade, entretanto sabemos que a vontade de resolver, desvendar um assunto, cooperar para a solução faz toda a diferença. O que podemos deduzir pelo desempenho dos meios de comunicação em relação ao tema drogas e suas consequências é que aqueles ainda não têm uma posição definida e assumida como responsabilidade social frente ao tema.
 Diferentemente da demais forma de comunicação, a publicidade tem como objetivo explícito promover a mudança de comportamento. A publicidade de bebidas alcoólicas, especialmente de cervejas, recebe vultosos investimentos e tem tido grande sucesso na promoção de seus produtos. Por quê? Porque a publicidade, mesmo em prejuízo da vida e da saúde, está compromissada com a expansão das vendas dos seus produtos. Perceba que quando se trata de campanhas publicitárias com mensagens preventivas, as dificuldades são inúmeras e os resultados não chegam ao público alvo de maneira eficaz.
A publicidade das bebidas alcoólicas deveriam ser mais discutidas, uma vez que representam o maior foco de problemas de saúde.  Os solventes e os medicamentos psicotrópicos, amplamente usados de forma abusiva pelos jovens, a cocaína e o crack, que são drogas altamente destrutivas, são as que mais recebem enfoque apenas repressivo. Esse tema chega a superar os demais aspectos relativos ao uso de drogas, como saúde, educação, políticas públicas. A diversidade de opções terapêuticas e a possibilidade de recuperação, assuntos tão relevantes, são temas muito pouco explorados ou são tratados superficialmente. As matérias sobre prevenção ainda poderiam oferecer uma visão menos persecutória e mais otimista, valorizando as potencialidades da comunidade, da escola e da família: mereceriam maior discussão na imprensa.  O descompasso entre a mídia e a saúde pública reflete a percepção da população, bem como é reflexo dela, inclusive entre os setores responsáveis pelas políticas publicas do país.
*Conceição Cinti- Advogada. Educadora. Especialista em Tratamento de Dependentes de Substâncias Psicoativas, com experiência de três décadas.


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