quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA OU COMPULSÓRIA


Fonte da foto: Internet

Internação involuntária ou compulsória é a melhor opção para o dependente de Crack.

*Conceição Cinti

Muito embora as autoridades não confirmem, quem trabalha com seriedade nas áreas de Prevenção e Restauração de Vidas sabe que o Brasil está epidêmico. Ora, a epidemia é um fenômeno temporal, que tende a desaparecer ou perder força em decorrência de procedimentos adequados por parte das autoridades sanitárias. O Governo Federal entra no combate as drogas com uma defasagem de duas décadas, e ainda assim patina, na implantação das políticas públicas para enfrentar essa complexa crise social relacionada ao Crack. Utilizando-se dos mesmos métodos convencionais de tratamento de viciados em drogas, que ao longo dos anos se mostraram pouco eficientes, e no dia a dia se mostram totalmente impróprios no combate ao Crack.
Os políticos costumam dizer que quando não há vontade política para enfrentar um problema, abre-se espaço para a mais ampla e inoperante discussão. É exatamente isso que precisamos evitar. Muitos dos nossos melhores especialistas na área de dependência, solidários já estão atuando efetivamente para alcançarmos a melhor solução, mas não podemos prescindir da participação das comunidades terapêuticas, pioneiras no atendimento com êxito a dependentes. Essas comunidades surgiram no Brasil por dois motivos principais: primeiro a falta de opções de atendimento pelo Poder Público, caracterizado pelo tradicional tratamento em hospital psiquiátrico (como acontece ainda hoje) concomitantemente com o atendimento de pessoas com transtornos mentais. E por segundo, o pedido de socorro de pessoas dependentes, ou seus familiares junto às igrejas e instituições religiosas, tendo em vista o envolvimento deste segmento com o problema de ordem social da comunidade, ao contrário do Governo que nunca fez esse enfrentamento adequadamente.
Através da mídia vimos e ouvimos muitos políticos de todos os matizes, abordarem o problema do Crack com se tivessem domínio da situação pelo menos em seus redutos. A impressão que passa é de que o Crack é um recém-chegado ancorando no País. Há mais de 20 anos vitima os adultos e na última década lamentavelmente alcançou severamente adolescentes e as crianças brasileiras que morrem precocemente todos os dias.
Precisamos levar em consideração que a dependência gerada pelo crack é a mais austera e brutal já vista, desagrega e traumatiza o dependente, os familiares, a sociedade, como nenhuma outra droga. Sendo que a exclusão social desse tipo de dependente acontecesse como num passe de mágica. Alias tudo relacionado ao crack ocorre velozmente. Desde os efeitos provocados pela inalação da fumaça, fazendo o dependente atingir o ápice, em aproximadamente 50 segundos, ao ilusório êxtase que não ultrapassa 5 minutos, seguido pela depressão que o faz entrar, na temida “noia” (provocando no dependente muito medo, fazendo-o ouvir vozes e ter visões de perseguições). Mesmo sendo esse um momento de superação muito sofrido para o dependente e, igualmente perigoso para quem se aproxima dele, esse acontecimento doloroso o conduz novamente a compulsão. E nesse círculo vicioso repetitivo pode varar noites consumindo a droga até o esgotamento físico ou a morte por overdose ou outras complicações.
O Crack vai destruindo velozmente o seu usuário, ao ponto dele perder totalmente seu autocontrole e o contato com o mundo externo. O crack o submete a um processo absurdamente desumano, transformando-o numa outra espécie de ser humano. A obsessão pelo consumo cada vez maior pelo crack torna esse tipo de dependente totalmente subserviente à droga a ponto de não temer pela própria vida (É nesse instante que geralmente ocorrem as tragédias), e na busca pela próxima dose, a vida do próximo não será impedimento para que o dependente atinja seu objetivo: fumar até se exaurir, mesmo que para isso precise ferir, roubar ou até mesmo matar alguém.


Por essa razão não há como prestar socorro, ou tratar desse tipo de paciente que não seja através do internamento. O Usuário de Crack é um dos pacientes mais arredios e desconfiados, evitando ao máximo o contato com quem quer que seja fora do mundo das drogas. Por essa razão sou favorável à internação involuntária ou obrigatória. A vida é sempre o bem maior! Dê a sua opinião.

* Conceição Cinti - Advogada. Educadora. Especialista em dependentes de substâncias psicoativas. Com experiência de mais de 27 anos no tratamento de dependentes.

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